IL diz que Igreja foi demasiado cautelosa sobre suspeitos de abusos e recomenda “bom senso”

O líder nacional da Iniciativa Liberal (IL) manifestou-se hoje preocupado com a mais recente intervenção da Conferência Episcopal a propósito dos alegados abusos sexuais na Igreja, apelando a que haja “bom senso” para evitar novos casos.

“Se há suspeitas, se há indícios, então não vamos continuar a permitir que estas situações possam acontecer”, insistiu o dirigente liberal, em declarações aos jornalistas, no âmbito de uma visita aos Açores, afirmando que a Igreja Católica “abordagem demasiado cautelosa” sobre esta matéria.

Para Rui Rocha, a Conferência Episcopal “parece não estar a aproveitar” o trabalho e a oportunidade que a Comissão Independente criou, com o levantamento de denúncias sobre alegados casos de abusos sexuais na Igreja, ao longo de vários anos.

“Analisando aquilo que foi a intervenção da Conferência Episcopal, fico preocupado, porque a Comissão Independente abriu, de facto, uma oportunidade para que tudo isto possa ser diferente, no futuro, e que as vítimas possam ter acesso à justiça que merecem”, realçou.

Para o líder nacional dos liberais, impunha-se que a Igreja tomasse medidas preventivas no sentido de evitar que novos casos de abusos sexuais pudessem ocorrer, mas quando confrontado sobre se os padres acusados deviam ser afastados do culto, Rui Rocha fala apenas em “bom senso”.

“A cautela aqui, não é adiar decisões. A cautela aqui é prevenir novas situações, e por isso, importa uma solução de bom senso”, rematou Rui Rocha, dizendo apenas que, na sua opinião, a Conferência Episcopal não estará a aproveitar a oportunidade criada pela Comissão Independente.

O psiquiatra Daniel Sampaio negou hoje que a Igreja tenha recebido uma lista com os nomes dos padres abusadores sem ter mais informações sobre os casos denunciados, descrevendo a postura dos bispos como um “atrasar do problema”.

“Não é verdade que é só uma lista de nomes”, afirmou o membro da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa, esclarecendo: “A lista foi obtida a partir das denúncias de vítimas – em que a vítima X diz que foi abusada pelo padre Y – e da investigação resultante do Grupo de Investigação Histórica junto dos arquivos. E a lista que foi entregue resulta da junção destas duas”.

Em declarações à Lusa, Daniel Sampaio enfatizou que houve um trabalho realizado ao longo ao último ano em todas as dioceses com os bispos e que “cada nome é do conhecimento das dioceses”.

“Quando o cardeal-patriarca diz que a Igreja não tem dados não é verdade”, afirmou o psiquiatra.

No domingo, o cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, declarou que a Igreja poderia atuar se tivesse factos para juntar aos nomes que constam da lista apresentada.

“Aquilo que nos foi entregue pela Comissão Independente foi uma lista de nomes. Se essa lista de nomes for preenchida por factos, tanto nós como as autoridades civis podemos atuar”, disse Manuel Clemente.

A Comissão Independente para o estudo dos abusos sexuais na Igreja Católica validou 512 testemunhos, apontando, por extrapolação, para pelo menos 4.815 vítimas. Vinte e cinco casos foram enviados ao Ministério Público, que abriu 15 inquéritos, dos quais nove foram arquivados.

Os testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, o espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão.

No relatório, divulgado em fevereiro, a comissão alertou que os dados recolhidos nos arquivos eclesiásticos sobre a incidência dos abusos sexuais “devem ser entendidos como a ‘ponta do iceberg’” deste fenómeno.

A comissão entregou à Conferência Episcopal Portuguesa uma lista de alegados abusadores, alguns no ativo, tendo esta remetido para as dioceses a decisão de afastamento de padres suspeitos de abusos e rejeitado atribuir indemnizações às vítimas.

Lusa

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