“Este projeto tem como principal alavanca a profunda convicção de que qualquer perspetiva de abordagem a um desenvolvimento sustentável, tem que ser assente na valorização dos bens que se inscrevem enquanto património local e identitário de uma comunidade e de representar algum travão aos malefícios da globalização que se aplica em tanto das nossas vidas”, declara à agência Lusa o presidente José António Soares.
O autarca considera que se pretende “resgatar e generalizar algo que tende a tornar-se residual e que poderá traduzir-se em imensos benefícios para a comunidade, seja pelos hábitos de consumo mais sadios e de acesso à base cultural, seja pelo imenso impacte positivo que poderá ter no incremento e diversificação da atividade económica, neste último caso, transversal a todos os setores de atividade”.
O presidente da Câmara Municipal da Madalena está convicto que a atividade turística e a oferta turística do Pico em particular “serão dos primeiros beneficiados do sucesso desta iniciativa”.
Para o autarca, está-se “perante a mudança comprometida do paradigma da procura turística, na qual, é sabido, o Pico tem procurado encontrar um posicionamento distinto e o que é certo é que a atual conjuntura de pandemia obrigou à procura de novos caminhos ou até incremento do que já estava a ser trilhado”.
Helena Juliano, responsável técnica do inventário do património gastronómico do Pico, também em declarações à Lusa, declara que “foi necessário fazer uma pesquisa bibliográfica exaustiva, da cultura, desenvolvimento económico e enquadramento histórico da ilha do Pico e das suas gentes”.
“Foi feita uma depuração de toda a informação, por forma a compreender e ler as necessidades de subsistência deste povo, as suas dificuldades e em que medida o fluxo migratório e o tempo influenciaram a sua evolução, resultando deste conjunto de fatores, hábitos e necessidades concretas, no fundo, cultura, no verdadeiro sentido da palavra”, afirma a especialista.
Helena Juliano salvaguarda que a abordagem “permitiu a identificação de espécies endógenas e produtos locais de grande valor cultural e gastronómico que apesar deste percurso continuam acessíveis e de grande interesse para a preservação dos seus valores”.
Foram recuperadas receitas perdidas “em folhas soltas e patinadas pelo tempo, aquelas que apenas permanecem na memória de quem lhes fez uso, mas têm a verdadeira identidade deste povo, e ainda a descoberta de pequenas atividades familiares, indústrias não assim identificadas, que durante anos asseguraram a subsistência de muitas famílias”.
A especialista aponta que “existem no Pico pratos únicos que não se podem encontrar em qualquer outra parte e são de difícil réplica, pelo seu modo de confeção, bastante artesanal e peculiar, pela qualidade dos seus produtos e matérias primas, influenciadas por um clima húmido e temperado e com enorme salinidade, que lhes confere especificidades únicas”.
Este projeto surge de um trabalho desenvolvido nos últimos seis meses, com a compilação de informação sobre “alguns dos processos, produtos e pratos que traduzem uma terra, uma cultura e acima de tudo, o modo como as suas gentes foram capazes de transformar recursos e adversidades locais em cultura e modo de vida.”
A partir de segunda-feira, estarão no Pico os jovens ‘chefs’ Carlos Afonso, do Restaurante “O Frade” (Lisboa), Paulo Lourenço, do Restaurante “QB” (Ilha Terceira) e Luís Gaspar do Restaurante “Sala de Corte” (Lisboa).
Estes especialistas vão com os restaurantes locais e os seus responsáveis a participar num ‘workshop’ de três dias que resultará num conjunto de receitas com novas e renovadas técnicas e formas de apreciar a gastronomia do Pico.
Lusa