“Fazer sondagens nos Açores implica um grau de atrevimento elevado porque os resultados são a soma das nove ilhas mais o círculo de compensação e a margem de desvio é sempre arriscada”, considera Rui Oliveira e Costa, administrador da Eurosondagem – Estudos de opinião. A empresa que está a efetuar uma sondagem encomendada por dois órgãos de comunicação social, opta normalmente por entrevistas telefónicas por ser “um método mais rápido e mais barato que as entrevistas diretas”.
A poucos dias das eleições regionais dos Açores, que se realizam a 14 de outubro, quem faz sondagens tem dificuldade acrescida porque em ilhas pequenas, como o Corvo ou as Flores, a taxa de não resposta é muito superior à do continente ou de ilhas com mais população.
“São locais muito pequenos, onde toda a gente se conhece e há alguma desconfiança em responder em quem se vai votar”, explica.
Num arquipélago em que cada ilha é um círculo eleitoral e onde existe um círculo de compensação, no qual são eleitos cinco deputados (com os votos sobrantes de todas as ilhas), são também as ilhas mais pequenas que mais baralham as estimativas.
“Por uma diferença de cinco ou dez votos pode eleger-se ou não um deputado e basta que uma família se mude para outra ilha para mudar os resultados”, acrescenta.
Isso mesmo atesta João António, do Centro de Estudos e Sondagens (CESOP) da Universidade Católica e responsável por uma sondagem à boca das urnas a realizar nas próximas eleições legislativas regionais de 19 de outubro.
“Em 2008, no Corvo, o CDS não elegeu um deputado por sete votos” recorda o técnico, que há data realizou também uma sondagem cujos resultados “não foram maus mas não foram tão aproximados como conseguimos no continente ou até na Madeira”.
Ao contrário da Eurosondagem, o CESOP opta por entrevistas porta a porta e, por questões de “operacionalidade e de custos”, apenas em S. Miguel e na Terceira, as duas maiores ilhas.
Mas até nessas as diferentes proporcionalidades estabelecidas pela lei concorrem para os desvios nos resultados.
“São Miguel e Terceira têm 80 por cento dos eleitores, mas só elegem 50 por cento dos deputados, nas ilhas mais pequenas a proporção é diferente e depois há ainda o círculo de compensação, onde para além dos partidos que não elegem nenhum deputado nas ilhas (normalmente CDU e Bloco de Esquerda) não sabemos quem lá irá parar”, afirma.
Embora nem o CESOP nem a Eurosondagens revelem os preços praticados, ambos admitem que o custo de uma sondagem nos Açores é sempre mais elevado.
“Para termos uma amostragem fiável temos que ter no mínimo 2000 respostas, e num arquipélago onde muita gente não responde, temos que fazer no mínimo 2500 telefonemas”, explica Rui Oliveira e Costa.
Jorge de Sá, da Aximage – Comunicação e Imagem, estima que o preço aceitável ronde “os 10 a 12 euros por entrevista”, mas nestas eleições, ao contrário de outras, nenhuma sondagem foi encomendada à empresa.
Assim, o administrador não poderá apresentar resultados que sustentem a sua convicção de que fazer sondagens nos Açores “não é mais complicado, é apenas diferente”.
As ilhas pequenas “são iguais aos concelhos pequenos” e fazer estimativas em nove ilhas “é como fazer estimativas em 20 círculos eleitorais no continente”, defende.
Porém, se não se revê nas dificuldades apontadas, há pelo menos um ponto em que todos convergem: nos Açores, meia dúzia de votos podem realmente fazer a diferença.
Ou até menos, sublinha Jorge de Sá, recordando “umas eleições em que no Corvo, o sr. Greves, que era o funcionário dos correios, foi eleito por um voto”.
Lusa