A decisão do júri, constituído pelo professor e escritor Vítor Aguiar e Silva, pelo presidente da Associação Portuguesa de Escritores, José Manuel Mendes, e, pelo professor da Universidade do Minho Carlos Mendes de Sousa, foi unânime. O prémio tem o valor pecuniário de 15.000 euros.
O júri, segundo comunicado enviado à agência Lusa, realçou o “apurado sentido de composição e a qualidade de escrita no desenvolvimento de um romance que, percorrendo diversos espaços geográficos e sociais, bem como tempos convulsionados, traçam uma memória coletiva densa, avessa a todo o esquematismo, a partir de núcleos efabulatórios, nos quais avultam personagens de grande finura e poder contrastivo”.
Com os Açores, de onde João de Melo é natural, no centro da narrativa, o “Livro de Vozes e Sombras” é uma obra sobre as aspirações revolucionárias do pós-25 de Abril de 1974, vividas entre os Açores, Lisboa e as nações africanas, que estiveram sob administração portuguesa.
O prémio é entregue no decorrer da Feira do Livro de Braga, agendada entre 9 e 25 de julho.
João de Melo, 72 anos, publicou o seu primeiro conto aos 18 anos, no jornal Diário Popular.
A sua experiência como militar na guerra colonial (1961-1974) reflete-se no romance “Autópsia de Um Mar de Ruínas” (1984), cuja 9.ª edição foi publicada em 2019.
Licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, João de Melo colaborou regularmente com revistas como a Colóquio-Letras, Vértice e, mais tarde, Sílex e Ler, entre outras publicações.
Em 1988 publicou “Gente Feliz com Lágrimas”, que lhe valeu vários galardões, nacionais e internacionais, como o Grande Prémio de Romance e Novela/1989, o Prémio Fernando Namora e o Prémio Cidade de Lisboa/Eça de Queiroz, assim como o Prémio Cristóbal Colón das Cidades Capitais Ibero-Americanas.
Este romance foi levado à cena pelo grupo de teatro O Bando, e adaptado à televisão pelo realizador José Medeiros.
A sua obra reúne cerca de duas dezenas de títulos, dos contos de “Histórias de Resistência” (1975), aos relatos de “Os Navios da Noite”, que antecederam o romance agora premiado, passando por poesia (“Navegação da Terra”), ensaio (“Literatura e Identidade”, entre outros títulos) e viagens (“Açores, o Segredo das Ilhas”).
“O Meu Mundo Não é Deste Reino”, “Bem Aventuranças”, “O Homem Suspenso”, “O Mar de Madrid”, “Lugar Caído no Crepúsculo” são outras obras numa carreira literária que se estende ao longo de mais de 40 anos, e que atingiu países como Alemanha, Bulgária, Colômbia, Espanha, Estados Unidos da América, França, Hungria, Itália, México, Países Baixos, Reino Unido e Irlanda do Norte, Roménia, Sérvia.
Entre outras funções, João de Melo foi conselheiro cultural da embaixada de Portugal em Madrid.
O Grande Prémio de Literatura dst tem como objetivo distinguir “obras originais, em dois géneros literários, escritas em português por autores portugueses, contribuindo assim para a promoção e valorização das literaturas de língua portuguesa”.
No ano passado, o prémio visou a área de poesia e o vencedor foi Fernando Guimarães pelo título “Junto à Pedra”.
Lusa