De abril a setembro deste ano, a Base das Lajes, na ilha Terceira, perdeu cerca de uma centena e meia de familiares de militares norte-americanos residentes, o que está a preocupar os trabalhadores portugueses e os empresários locais.
Segundo João Ormonde, presidente da comissão representativa dos trabalhadores portugueses na Base das Lajes, em abril deste ano, viviam na Terceira 828 dependentes (filhos e cônjuges de militares) dentro do perímetro da base e 534 em casas arrendadas fora da base, mas em setembro contavam-se apenas 746 na primeira situação e 467 na segunda.
Em agosto, as comissões de serviços do efetivo norte-americano na Base das Lajes passaram de dois para um ano, deixando também de ser transferidos militares com familiares.
João Ormonde “repudiou” a decisão do departamento da Defesa americano, alegando que ela vai “prejudicar” as negociações entre Portugal e os Estados Unidos, apesar de lhes ter sido garantido que não serão despedidos trabalhadores até que o Senado tome uma decisão.
“Esta tomada de posição é uma maneira de pressionar, de forma a contrariar qualquer tendência contrária”, frisou, em declarações à Lusa.
No final do ano passado, a administração norte-americana anunciou a intenção de reduzir o efetivo ao mínimo, prevendo manter apenas 160 militares, sem famílias, o que levaria ao despedimento de cerca de três centenas de trabalhadores portugueses, a partir de outubro de 2014.
Na base portuguesa, além dos funcionários nacionais, existe um destacamento de americanos composto por militares e famílias que ali estão ao abrigo de um Acordo de Cooperação e Defesa assinado por Portugal e EUA em 1995, em que Portugal dá autorização aos americanos para utilizarem infraestruturas de apoio a operações militares e de tráfego militar.
Em julho deste ano, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou, por unanimidade, uma emenda que proíbe a redução em 2014, mas a decisão está dependente da aprovação do Senado.
Segundo João Ormonde, apesar de o número de militares se ter mantido superior a 600, a redução de familiares vai afetar “a médio e longo prazo” os trabalhadores diretos e indiretos, sobretudo nos “serviços vocacionados para o apoio às famílias”.
O responsável salientou que esses efeitos já se estão a fazer sentir com o esvaziamento de alguns serviços, dando como exemplo o BX, a cantina da base, que de há uns meses para cá tem “menos mercadoria à venda”.
No último ano, a Base perdeu 16 trabalhadores portugueses, uns por aposentamento outros por fim de contrato a termo, mas os atuais 790 podem ser reduzidos para um número máximo de 390, se o plano inicial da administração norte-americana se concretizar.
Também os trabalhadores civis norte-americanos na Base as Lajes diminuíram de 73 para 63 no último ano, sendo que os familiares contratados passaram de 64 para 58.
Com a redução da população americana na ilha, os funcionários da Base das Lajes ficam com menos trabalho, ainda que com a garantia de não serem despedidos para já. Outros trabalhadores veem, no entanto, os seus serviços dispensados, como jardineiros, amas ou empregadas de limpeza.
Também o comércio local se irá ressentir, bem como a restauração, mas o principal setor a perder com esta decisão será o do arrendamento de casas, onde se estimava que os norte-americanos investissem cerca de 300 mil euros mensais.
Ricardo Evangelho chegou a ter 15 casas arrendadas a americanos no Porto Martins, freguesia próxima da Base das Lajes. Hoje tem apenas oito ocupadas e já se viu obrigado a desfazer-se de algumas.
As últimas notícias que davam conta de um possível adiamento da redução deram-lhe “esperanças”, que morreram no verão, com a redução da procura.
“No verão chegavam sempre pessoas novas e quando falavam comigo para arrendar casa eu costumava ter todas cheias”, recordou, em declarações à Lusa.
Em outubro ficou com mais duas casas vazias, porque duas trabalhadoras civis norte-americanas terminaram um contrato que estava previsto durar mais um ano.
A maior parte dos proprietários daquela zona adquiriu as casas de propósito para arrendar aos norte-americanos, mas atualmente não as consegue arrendar nem aos portugueses, que preferem uma casa no centro da cidade.
Lusa