O Bloco de Esquerda Açores denunciou, esta quinta-feira, “casos concretos de empresas privadas que são apoiadas com muitos milhares de euros de dinheiros públicos e que tratam os seus trabalhadores de forma ilegal, imoral e indecente, com a conivência do Governo Regional e com o branqueamento da Inspeção Regional do Trabalho”.
Segundo o BE em causa estão as empresas Facostura – representada na conferência de imprensa por duas ex-trabalhadoras – e Estufaçor, mas “quantos milhares de açorianos e açorianas não estão aqui porque têm medo de dar a cara?”, questionou a coordenadora do BE Açores, e que deu voz à denúncia.
Zuraida Soares relatou que as trabalhadoras da Facostura, são sujeitas a assédio psicológico e a ameaças verbais como “o que vocês precisam é de chicote”, e adiantou que “o patrão instalou câmaras de vigilância para monitorizar, a partir do continente, onde reside, o trabalho, as refeições e as conversas de forma permanente”.
A coordenadora do BE falou ainda em nome de alguns trabalhadores da empresa Estufaçor e naquilo que considera ser “situações de extrema gravidade”, como sendo a existência de contratos de trabalho caducados, a aplicação de fitofármacos sem respetiva formação obrigatória e sem qualquer tipo de material de proteção, a falta de instalações sanitárias, entre outras situações, que o Bloco de Esquerda relembra são empresas “apoiadas por milhares de euros de dinheiros públicos”.
A denuncia revela igualmente que a Inspeção Regional do Trabalho já esteve na empresa, “mas não abordou qualquer trabalhador – dos poucos que estavam presentes, porque a maioria foi colocada noutro prédio, uma vez que a visita da inspeção já era do conhecimento do patrão”, uma situação que levou Zuraida Soares a fazer duras críticas a este órgão da administração regional: “Ou a IRT é dotada dos meios técnicos e humanos que precisa, e assume uma postura de independência face ao poder político, ou então não é mais do que uma mão do Governo Regional a controlar as empresas, a castigar umas e a premiar outras”.
O BE reitera que é a favor do apoio público a empresas privadas e da existência de apoios à empregabilidade, mas defende contrapartidas e mais fiscalização. Zuraida Soares lembrou ainda que a proposta do BE para a criação de um grupo de trabalho no parlamento para avaliar e fiscalizar abuso de programas de incentivo à empregabilidade para satisfação de necessidades permanentes foi chumbada pelo PS, porque o Governo “não tem a coragem de mostrar a indecência que está a pagar com o dinheiro que é de todos”.