A toxina encontrada no leite dos Açores retirado do mercado tinha níveis de concentração ligeiramente superiores aos permitidos pela União Europeia, mas só a ingestão diária continuada de milhares de litros por uma pessoa poderia ter impacto na saúde.
A explicação foi dada à agência Lusa pelo diretor dos Serviços de Veterinária da Direção Regional da Agricultura dos Açores, Hernâni Martins, que esclareceu que os estudos conhecidos referem que a aflatoxina M1 “apresenta alguns aspetos que são cancerinogéneos”.
No entanto, acrescentou que, por exemplo, uma pessoa de 100 quilogramas teria de ingerir entre 5.000 e 200 mil litros de leite por dia, “durante muito tempo”, para sentir efeitos semelhantes aos detetados em ratos submetidos a experiências de laboratório.
Assim, sublinhou que em causa, neste momento, nos Açores, estão “as exigências legais” no seio da União Europeia (UE), que estabeleceu um limite máximo de concentração daquela toxina que é, por exemplo, dez vezes inferior ao permitido pela lei nos Estados Unidos da América.
A UE adotou como limite máximo de concentração 0,05 µg/kg, “um limite legal” que é muito pequeno, afirmou o responsável, dizendo que os níveis detetados em leite produzido em S. Miguel são ligeiramente superiores (entre 0,07 µg/kg e 0,09 µg/kg).
“É mais um aspeto legal que propriamente de perigo para a saúde pública”, afirmou.
Hernâni Martins explicou, ainda, que a presença da aflatoxina M1 no leite resulta da ingestão pela vaca da toxina aflatoxina B1, presente em rações com bolor.
“Não é uma doença, não é um animal doente que transmite [a toxina]”, explicou, dizendo que se a vaca deixar de consumir a ração com bolor, num espaço de poucos dias deixa de produzir leite com aflatoxina M1.
O problema é, por isso, “sempre localizado e sempre pontual”, reforçou, dizendo que estão a ser feitos testes também na ilha Terceira, não tendo, até agora, sido detetado o mesmo problema.
Na segunda-feira, o Governo dos Açores já tinha assegurado que “não está em causa” qualquer questão relacionada com a saúde pública.
Apesar disso, considerou que o procedimento seguido pelas indústrias de laticínios, e que consiste na retirada desse leite da distribuição, “constitui o procedimento preventivo adequado”.
Uma nota do gabinete de imprensa do Governo dos Açores referia ainda que a Secretaria Regional dos Recursos Naturais tem acompanhado e “monitorizado”, através do Laboratório Regional de Veterinária, a situação, visando a “avaliação da eficácia” das “várias medidas preventivas” quanto à comercialização de leite UHT produzido na ilha de S. Miguel e “corretivas no que toca à produção de rações na mesma ilha”.
Ainda de acordo com a mesma nota, no que concerne às rações produzidas com o lote de milho proveniente da Bulgária, identificado como sendo a “causa desta situação”, as mesmas foram “recolhidas de circulação” e “vão ser destruídas”, bem como “reforçados os mecanismos de controlo” relativos à alimentação animal.
A empresa de laticínios BEL foi a única que até agora assumiu que retirou do mercado lotes de leite UHT produzido nos Açores onde detetou uma concentração de aflatoxina M1 de 0,074 µg/kg.
“Segundo o Codex Standart 193-1995, norma internacional de referência para a análise de saúde alimentar e proteção do consumidor, não existe qualquer risco para a saúde pública até ao limite máximo de 0,5 µg/Kg. Esta normativa foi subscrita por 185 países a nível mundial, entre outras entidades, nomeadamente a Organização Mundial da Saúde. Apesar desta referência de intervalo, indicado pelo Codex, a União Europeia adotou pelo valor de 0,05 µg/kg, isto é, um valor dez vezes inferior ao definido pelo Codex”, lê-se num comunicado da empresa, que “assegura que todo o seu leite UHT em comercialização está em conformidade com os limites legais”.
Lusa