São cinquenta e tal, mas poderiam ser outras tantas. A obra que Jorge Kol de Carvalho apresentou esta quarta-feira às livrarias, reúne olhares – de arquiteto, por Ponta Delgada, uma cidade de costas viradas ao mar, e cujo renascimento arquitectónico surgiu nem sempre da maneira mais consensual.
É um livro de causas defendidas, de coragem e de desapego a interesses que “ficam agora à merce do único julgador independente que existe…o tempo”.
José Manuel Santos Narciso, apresenta assim o “desassossego” de Kol de Carvalho, raiado “de um profundo regionalismo mas ao mesmo tempo tocado pelo universalismo e pela difícil conjugação entre passado e a criatividade sem cair em desnecessários exibicionismos, hoje tão em voga”.
O director-adjunto do jornal Correio dos Açores, onde as crónicas do arquiteto foram publicadas durante meses, garante que o leitor se entusiasmará com estes escritos, “onde se sente um pulsar de ideias, com uma linguagem rica de conteúdo e de felizes comparações que nos levam em viagens por tempos e lugares onde se encontram marcas do tempo de erros muitos deles evitáveis e alguns deles absolutamente insanáveis”.
O fio condutor de “Cinquenta e tal arquitecturas pelo Correio” na abrangência que coloca, com o equilíbrio necessário, cidade, campo e mar, apela a que “deixemos de importar inadequados modelos e procuremos projetos à dimensão e fragilidade do território em que nos revemos”, revela o jornalista.
“Os arquitetos são também poetas”, lembrou Santos Narciso, citando Cottinelli Telmo, autor do edifício original do Padrão dos Descobrimentos, que revê na obra de Kol de Carvalho “muita e bonita poesia”, relevando que apesar de ter trabalhado quase metade da sua vida em território continental, o tempo não adormeceu no autor, o menino nascido na Terra Chã, ilha Terceira, a terra dos dois caminho, imortalizada no romance Arquipélago, de Joel Neto.
“Não podemos ser reduzidos a números, nem se pode decidir a favor de pressas e interesses”, afirma o autor das crónicas agora publicadas, critico de um património edificado que contraria a máxima, deixando por isso o livro, interrogações e inquietações intemporais.
Apresentado num intimo convívio na Livraria Solmar, em Ponta Delgada,“Cinquenta e tal arquitecturas pelo correio”, mais do que um livro para ler, assume um debate frontal que nunca é demais fazer.
Açores 24Horas / SM / Foto : Direitos Reservados