Mais de 400 páginas, ilustradas com fotografias inéditas, estão reunidas no livro “A campanha do ananás: Os Açores na II Guerra Mundial”, que descreve ao pormenor episódios da permanência de milhares de tropas do continente no arquipélago naqueles anos.
“É a vivência e a relação destas tropas com a população civil, particularmente em São Miguel, durante o período da guerra em que os Açores receberam dezenas de milhar de militares, vindos do continente”, disse à Lusa o major-general José Alfredo Ferreira Almeida, autor da obra, que é lançada a 24 de outubro no Museu Militar dos Açores, em Ponta Delgada, por ocasião do Dia do Exército.
O autor destaca as 440 páginas ilustradas e as fotografias, algumas delas inéditas, de transportes, dos quartéis, aspetos menos conhecidos da cidade e até de material de guerra, ilustrações cedidas por particulares.
Na época, e segundo o autor, “a censura da imprensa era muito rigorosa”, pelo que acabou por obter muita informação para a obra “nas entrelinhas” através “das ordens de serviço do Comando Militar”, de alguns jornais da época, embora com limitações, alguns livros, e vários testemunhos de pessoas.
Segundo o major-general, durante a II Guerra Mundial “vieram para os Açores cerca de 30 mil homens, e destes cerca de 28.000 estiveram em permanência em São Miguel”, que acabaram por “influenciar a ilha” quer do ponto de vista cultural como na área da saúde, mas a relação destes militares com a população civil “nem sempre foi fácil”.
Muitos militares acabaram por se casar e constituir família em São Miguel, mas “muitos casamentos acabaram por não se concretizar” e “muitos soldados condenados” porque “faltaram à palavra”, contou o autor do livro, onde o leitor fica também a conhecer “as famosas camuflagens” que foram feitas para não dar pistas ao inimigo, os vidros protegidos por causa dos bombardeamentos ou até a ação da Legião Portuguesa na defesa civil do território.
“Viveram-se momentos muito tensos, de grande intensidade, na perspetiva de uma iminente invasão do arquipélago, nomeadamente nas três ilhas guarnecidas, São Miguel, Terceira e Faial, onde existiam tropas vindas do continente”, conta, salientando que “a ilha beneficiou com a presença maciça destas tropas”, mas o relacionamento com a população “nem sempre foi bom” e ocorreram “vários atritos”.
Além da introdução de outros hábitos alimentares, a presença da tropa do continente permitiu imprimir movimento à ilha de São Miguel.
“O Emissor Regional dos Açores tinha acabado de ser inaugurado, em 1941 a tropa do continente vem dar uma animação extraordinária à ilha, porque os quartéis fazem programas semanais na rádio”, descreve o major-general, que realça também como aspeto importante o facto de a presença da tropa nos Açores garantir em permanência a presença de veterinários e médicos que trabalhavam em benefício da população civil.
Ainda durante aquele período, foi notório “um cuidado dos comandos em relação à imagem da instituição no meio civil e ao respeito pela população”, acrescentou, revelando que na altura era “recomendada uma postura correta da tropa em relação aos civis”, instruções “permanentemente transmitidas” com “muitos soldados severamente punidos pela sua conduta, mas também outros louvados pela sua honestidade e generosidade”.
“A campanha do ananás: Os Açores na II Guerra Mundial” resulta de uma vasta pesquisa do autor da obra sendo uma compilação de 100 crónicas publicadas no semanário Terra Nostra, em São Miguel, entre abril de 2011 a 2013.
Lusa