A Câmara Municipal de Ponta Delgada deliberou atribuir o “Diploma de Reconhecimento Municipal” a 26 estabelecimentos representativos do comércio tradicional do centro histórico da cidade.
A homenagem coletiva a Lojas Históricas de Ponta Delgada foi proposta pela Comissão Municipal de Toponímia e Distinções Honoríficas, considerando como critérios seletivos constituírem um estabelecimento de comércio, funcionarem há mais de meio século, estarem instaladas no centro histórico da cidade, manterem o mesmo ramo de atividade fundacional, preservarem a sua estrutura patrimonial e conservarem elementos distintivos, “sem prejuízo de futuras iniciativas de reconhecimento devido a outras entidades de natureza similar que desenvolvem atividade meritória na cidade, em especial, e no concelho, em geral”.
A Ourivesaria Corrêa Picanço, Gil M. Teixeira, Tabacaria Autonomista, Louvre Micaelense, Farmácia Popular, Casa Singer, Tabacaria Mascote e Drogaria Açoriana são algumas das Lojas Históricas de Ponta Delgada que receberão o Diploma de Reconhecimento Municipal, tal como a Tabacaria Açoriana, Casa de Sementes Serpa, Loja da Preta, Sapataria Eliela, Casa de Bordados Mário dos Reis Rodrigo, Avlis, Papelaria Lusitana e Casa Brasil.
Outros estabelecimentos comerciais distinguidos são o Armazém Toronto, A Nova York (Quatro Estações), Londrina, Ourivesaria Martins do Vale, Loja das Chitas, Casa dos Óculos Domingos Vieira, A Parisiense, Oculista Mendonça, Ourivesaria Rubi e Riviera.
O presidente da Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada, Mário Fortuna, é o orador convidado da cerimónia de entrega dos Diplomas de Reconhecimento Municipal a este primeiro conjunto de lojas históricas, que será presidida pelo presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, José Manuel Bolieiro.
A “Ourivesaria Corrêa Picanço”, fundada entre 1858 e 1860, por José Corrêa Picanço, na Rua da Mãe de Deus e depois transferida para as suas atuais instalações, no Largo da Matriz, é a mais antiga das lojas homenageadas. Após a morte de José Corrêa Pincanço, o seu irmão constituiu sociedade com os seus empregados, António Jacinto Ferreira e Altino Soares França. Em 1949, a firma passou para propriedade de António Hintze Ferreira e Paulo de Lacerda e mantém-se, até aos dias de hoje, na posse das mesmas famílias.
“Gil M. Teixeira & Irmãos” é outro dos estabelecimentos comerciais a receber o Diploma de Reconhecimento Municipal. Foi fundado, em 1888, por Francisco José de França, na Rua dos Mercadores, e legado ao seu filho Américo França, em 1910, quando este regressou da emigração no Brasil. Este espaço de comércio de quinquilharia, artigos domésticos e objetos religiosos, em 1973, passou para a gerência de Gil M. Teixeira e mantém-se na mesma família até hoje.
Mais um dos espaços comerciais históricos da cidade de Ponta Delgada é a “Tabacaria Autonomista”. Foi fundada em 1888, por Luís Soares de Sousa, autonomista da primeira geração, destinando-se a depósito de venda de cigarros e de outros produtos elaborados na “Fábrica de Tabaco Estrela”. Com o falecimento de Luís Soares de Sousa, o seu primeiro empregado, Aníbal de Sousa Jorge, assumiu a propriedade deste estabelecimento, desde 1928 instalado na Rua Açoriano Oriental.
O emblemático “Louvre Michaelense” foi inaugurado em 1904, como um dos estabelecimentos mais “chiques” da cidade de Ponta Delgada, vendendo chapéus e tecidos, que vinham diretamente de Paris. Duarte Cardoso foi o seu fundador e o estabelecimento foi reaberto, neste mesmo local da Rua António José de Almeida, em 2015, por iniciativa de Catarina Ferreira, como “mercearia do mundo”, mas preservando as mesmas caraterísticas estruturais de sempre.
Situada no canto da Rua Machado dos Santos com a Rua do Pedro Homem, a “Farmácia Popular”, fundada ainda antes de 1920, é outro dos estabelecimentos distinguidos no dia 2 de abril. Os seus primeiros proprietários foram José Sabino Borges e José da Mota, que depois venderam o espaço a Vasco de Morais, Manuel de Sousa Melo e Aquino Tavares. Este espaço tinha então a direção técnica do farmacêutico Duarte Castanheira Lobo, que depois se tornou proprietário único até à data do seu falecimento. Em 1952, a farmácia foi adquirida por Jacinto Tavares de Melo e mantém-se na posse dos seus herdeiros, até hoje.
Também a “Casa Singer” foi estabelecida em 1920, na Rua dos Mercadores, por iniciativa de José Nicolau Pereira. Neste espaço eram comercializadas máquinas de costura da marca “Singer” e realizavam-se cursos de corte e costura, sob orientação da formadora Berta Melo.
A “Tabacaria Mascote”, instalada no lado sul da Igreja Matriz desde 1920, foi fundada por José Albo, um conhecido membro da comunidade hebraica de Ponta Delgada, como espaço de venda de lotaria, cigarrilhas e charutos cubanos. Com a ativa colaboração de Estrela Albo, esposa do fundador, passou a dedicar-se também ao comércio pioneiro de sorvetes de maracujá, limão e laranja, seguindo uma receita exclusiva. Em 1947, com a morte do fundador e a ida da esposa para Marrocos, o estabelecimento foi trespassado a José Tavares de Melo, natural da Ribeira Grande.
A “Drogaria Açoriana” foi fundada em 1928, na Rua Machado dos Santos, por José Sabino Januário Borges, sendo a única drogaria existente no comércio de Ponta Delgada. Em 1936, este estabelecimento foi vendido a Serafim Viveiros e, dois anos depois, trespassado ao antigo empregado Manuel José de Sousa. O seu afilhado, José António dos Reis acabou por assumir a gerência, em 1974, e introduziu-lhe novas especialidades, como a produção e o comércio de mel.
A “Tabacaria Açoriana” foi fundada em 1931 por José Carlos Pacheco, então proprietário da mercearia instalada no Largo 2 de Março. Ainda hoje este espaço funciona nos baixos da sua residência da antiga Rua da Canada, atual Rua do Diário dos Açores. Em 1938, passou a sociedade ao seu filho, Fernando Carlos Pacheco, e, em 1955, o seu neto, José Carlos Pacheco, dinamizou a secção de livraria e passou a promover, anualmente, a mais antiga “Feira do Livro” de Ponta Delgada.
A “Casa de Sementes Serpa” fica situada na Rua dos Mercadores e foi fundada por Humberto Serpa, em 1933, como sendo a primeira casa local da especialidade. Destinava-se à venda de bolbos, plantas envasadas e grande variedade de sementes para a agricultura. Com a morte prematura do seu fundador, a firma ficou a cargo de sua irmã Conceição Serpa, que a dirigiu quase até ao seu falecimento em 2015, com 105 anos de idade. Agora a firma é gerida pelo seu sobrinho-neto, António Humberto Serpa.
Outro espaço que faz parte do legado comercial de Ponta Delgada é a “Loja da Preta”. Foi fundada em 1937, pelo cidadão judeu Luzer Salles, como estabelecimento de quinquilharias, na Rua Machado dos Santos. Em 1952, é trespassada para J. C. Dias e mantém-se, ainda hoje, na mesma família. A “Loja da Preta” terá sido o primeiro estabelecimento de Ponta Delgada a vender malas de matéria plástica para os emigrantes que rumavam aos Estados Unidos e Canadá.
A “Sapataria Eliela” abriu em 1940, no canto em baixo da Rua Carvalho Araújo, por iniciativa de Nicolau Pavão da Silveira. Este foi um estabelecimento que prontamente marcou, não só pelas suas caraterísticas arquitetónicas, mas também pelas iniciativas que desenvolveu para poder vender sapatos a todas as classes sociais.
A “Casa de Bordados”, fundada em 1944 pelo comerciante Mário dos Reis Rodrigues, na Rua da Cruz, ainda hoje se dedica à feitura do bordado regional dos Açores e, em especial, ao Bordado de São Miguel. Mantém as suas primeiras colaboradoras e atuais proprietárias, as irmãs Venilde e Wanda Amaral, e tem participado em certames de artesanato, no país e no estrangeiro, sendo distinguida pelos trabalhos que apresenta.
A “Avlis” foi estabelecida em 1945, pelos sócios fundadores João Jacinto de Melo, José da Silva Alves e João de Oliveira e Silva. Esta loja esteve sempre instalada na Rua Açoriano Oriental, na casa onde funcionava a “Pensão Sardinha”, manteve a traça arquitetónica caraterística do século XIX e acabou por associar à sua atividade de quinquilharia as secções de tintas, criança e artes decorativas.
A “Papelaria Lusitana” foi fundada por volta de 1945, por iniciativa do engenheiro técnico Gilberto Silvério de Medeiros e do seu primo Luís de Paiva Resende de Medeiros. Em 1949, este estabelecimento é trespassado para a firma “Teixeira & Tavares” e, em 1952, o sócio Artur Tavares assumiu a propriedade exclusiva. Uma das iniciativas mais marcantes desta loja é o “Pai Natal da Papelaria Lusitana”, que passou a concentrar as atenções das crianças de Ponta Delgada, na Rua Marquês da Praia e Monforte, com a distribuição de brinquedos durante o tradicional Dia das Montras.
A “Casa Brasil” foi fundada em 1946, por Albino Soares Coutinho Cabral, na Rua Machado dos Santos, mantendo ainda a vocação inicial do comércio de roupa de pronto-a-vestir. Este espaço popularizou-se, rapidamente, junto das classes rurais, e chegou a estabelecer sociedade com o grupo “Armazém Canadá”, continuando sob gerência da família do fundador.
O “Armazém Toronto” surgiu por volta dos anos de 1947/48, por iniciativa de Durval Ferreira, como estabelecimento comercial polivalente, na Rua Marquês da Praia e Monforte. Mais tarde, o seu proprietário, com a ajuda dos filhos, abriu novos estabelecimentos para dar continuidade ao negócio.
Outro dos estabelecimentos comerciais reconhecidos é a “Nova York”, agora denominada de “Quatro Estações”. Este espaço foi inaugurado em 1949, na Rua Marquês da Praia e Monforte. Os seus primeiros proprietários foram Clemente Amâncio Borges e Virgílio Augusto de Sousa. Em 1965, o primeiro cedeu a sua quota da sociedade a Maria Natália dos Santos Sousa, esposa do segundo e, com o falecimento de Virgílio, em 1976, a sociedade passou a ser constituída por sua viúva e por seu filho Ladislau Ferdinando de Sousa. Este estabelecimento reabriu recentemente com outra designação, mas preservando a sua emblemática estética patrimonial.
A “Londrina” está sediada, desde 1950, no Largo Vasco Bensaúde. Começou por pertencer à firma “Borges & Soares”, da qual eram proprietários Clemente Amâncio Borges e Manuel de Sousa. Com uma nova sociedade constituída em 1971, passou a especializar-se no comércio de pronto-a-vestir para homem.
A “Ourivesaria Martins do Vale” foi fundada em 1952, pelos irmãos Albano e Manuel Martins do Vale, antigos empregados da Ourivesaria Corrêa Picanço. Após o falecimento do seu pai, Albano Martins do Vale assumiu a gerência desta ourivesaria avaliadora oficial da Casa da Moeda, coadjuvado pelo seu filho Paulo do Vale, ourives distinguido pela criação de joias inspiradas no basalto regional.
A “Loja das Chitas” foi fundada em 1954, como loja de fazendas, por António Mota, que até então se dedicava ao comércio de licores. Apoiado pelo genro José de Viveiros e, depois, pelos seus filhos Manuel António e João José, este estabelecimento expandiu-se para os armazéns de revenda do grupo Euromotas, mas mantém-se ainda em atividade as instalações primitivas na Rua do Mello.
A “Casa dos Óculos Domingos Vieira” surgiu em 1955, no piso térreo do antigo edifício dos CTT localizado no então Largo da Misericórdia, atual Largo Vasco Bensaúde. Foi fundada por Domingues Vieira, natural de Rabo de Peixe. Em 1968, o seu fundador inaugurou um outro estabelecimento, a “Ótica Médica”, na Rua de S. João, e, em 1982, estabeleceu sociedade com a sua esposa, Alda Margarida de Sousa Santos Vieira, adotando a designação comercial de ”Domingos Vieira”.
A loja “A Parisiense” foi estabelecida em 1959, na Rua Marquês da Praia e Monforte, nos baixos do Solar da Família Albuquerque. Surgiu por iniciativa comercial de Leonilde Soares Tavares da Ponte e de seu cunhado Álvaro Galvão de Oliveira. Ainda hoje, continua a desenvolver a sua atividade primordial no ramo de tecidos para confeção.
O estabelecimento comercial “Oculista Mendonça” foi fundando em 1959, no Largo da Matriz, onde ainda se mantém. O seu fundador é João Pimentel Mendonça, natural da vila da Povoação, que se especializou no Porto em ótica médica. Este espaço ficou conhecido por ajudar as famílias mais carenciadas a adquirir os óculos necessários a preços mais acessíveis.
A “Ourivesaria Rubi” foi fundada em 1960, por Eduardo Augusto Machado, na Rua António José de Almeida. Fez furor pelo caráter pioneiro da sua linha arquitetónica e pela iniciativa inédita de submeter a referendo público a sua atual denominação.
Por fim, a loja “Riviera” foi a primeira da cidade de Ponta Delgada dedicada ao ramo de pronto-a- vestir para homem. Este espaço foi inaugurado em 1964, na localização que mantém da Rua Machado dos Santos, por iniciativa de José Costa Franco, natural da freguesia dos Mosteiros e antigo empregado dos “Armazéns Cogumbreiro”, que continua a ser o seu proprietário.
O processo de atribuição destes Diplomas de Reconhecimento foi desencadeado pelo antigo presidente da Comissão Municipal de Toponímia e Distinções Honoríficas, Rubens Pavão, e agora consumado pelos atuais comissários José Andrade (presidente), Isabel Soares de Albergaria (vice-presidente), Maria João Ruivo (secretária), Joaquim Machado, José de Mello, Pedro Garcez e Pedro Pascoal (vogais).
A entrega formal das distinções honoríficas ocorre na cerimónia comemorativa do 472º aniversário da Cidade de Ponta Delgada, que tem lugar a 2 de abril, às 18h30, no salão nobre dos Paços do Concelho.
Os estabelecimentos locais de hotelaria, restauração e cafetaria deverão integrar oportunamente um segundo conjunto de distinções municipais.
Açores 24Horas / NI