O acidente deixou Antero em estado de coma durante nove meses e resultou em inúmeras marcas físicas, por exemplo: a criança não tem mobilidade, ficou com parte do crânio esmagado, tem o rosto deformado e não consegue abrir os olhos.
Pilar Silvestre, a educadora que tem acompanhado Antero desde há quatro anos, adianta que “o menino nem se sentava sem apoio, mas foi feito um grande investimento na parte da fisioterapia e ao fim do primeiro ano o menino já se punha de cócoras.”
Esta evolução foi, no entanto, interrompida, uma vez que foi temporariamente negada a Antero a continuação da fisioterapia, por “ele estar muito revoltado”.
Antero foi dado como culpado do acidente pela seguradora, pelo que a família não recebeu qualquer tipo de apoio financeiro por parte da agência de seguros. “Um menino de três anos dado por culpado”, desabafa a educadora.
Falta de apoio é também o que a família tem sentido por parte do Governo Regional. Lúcia Ferreira, mãe da criança, diz que já tentou falar pessoalmente com o presidente do Governo Regional, Carlos César, e não tem conseguido. “Há ali um obstáculo que não sei o que é”, afirma.
Antero “já foi a Boston tratar dos olhos”, mas a cargo do hospital. A segunda viagem que deverá estar para breve já foi financiada, mas “por privados”. “Eu sinto que nunca houve uma grande vontade de unir esforços. Não houve um esforço conjunto de unir as várias vertentes intervenientes na reabilitação do Antero”, afirma Pilar Silvestre, reforçando a ideia de que uma melhoria das condições de vida da criança deve passar por uma sinergia entre a parte educativa, a parte médica e a fisioterapia.
O apelo que Lúcia Ferreira gostaria de fazer é o de “que olhassem mais por este caso, pelo Antero”. “Infelizmente, a saúde compra-se. Se calhar, se cada família desse 5 euros, ele já tinha dinheiro para ir para a semana à procura daquilo que ele precisa. Hoje é o Antero, amanhã poderá ser qualquer um de nós”, conclui a educadora.
Foi criada recentemente uma conta bancária no nome do Antero, que conta já com cerca de 10600 euros, valor que se revelou ainda insuficiente para as despesas previstas com questões logísticas e de tratamento. “Temos ainda de fazer um orçamento, mas não é com estes 10 600 euros que o Antero vai lá”, esclarece a mãe. À pergunta “chegou a dizer ao médico do Antero que queria ir à América?”, Lúcia diz-nos que “o doutor nunca concordou que eu fosse, porque aqui também podiam fazer e não era com o dinheiro que eu tinha que íamos à América. Ele foi um bocado grosso comigo, mas eu disse que ia em frente e vou tentar tudo por tudo para ir com ele lá fora.”
Pilar Silvestre reforça a ideia de que “isto não se trata de um capricho. Antes de querer ir à América, esta mãe tentou de todas as maneiras que o menino tivesse o melhor aqui, e lá fora no continente.” Conclui a educadora que “há muito mais para fazer pelo Antero do que o imediato. É um menino muito inteligente e com muita vontade de viver”.
Isidro Fagundes / Rui Jorge Cabral (in AOriental)