Mais de 600 naufrágios dão potencial arqueológi​co “enormíssi​mo” aos Açores

O arqueólogo José Bettencourt, do Centro de História Além-Mar, destacou hoje o potencial científico dos Açores, salientando que estão registados em fontes escritas entre 600 a 700 naufrágios, entre os séculos XVI e XX.
“Estamos a falar de um potencial enormíssimo para a investigação, para a valorização turística e cultural da região, até para a afirmação da nossa identidade enquanto região, com o seu próprio percurso histórico dentro do Atlântico”, frisou.
José Bettencourt é um dos responsáveis pela exposição “Histórias que vêm do Mar”, que o Museu de Angra do Heroísmo inaugura hoje, numa parceria com o Museu da Horta, o Observatório do Mar dos Açores e o Centro de História de Além-Mar.
Segundo o arqueólogo, os Açores “têm um potencial científico muito elevado e têm já uma história de investigação, que é referência a nível nacional”, sendo que o arquipélago tem cerca de 30 sítios identificados com a designação de património cultural subaquático, de acordo com os parâmetros da Unesco.
A exposição, que o Museu de Angra do Heroísmo inaugura agora, nasceu na ilha do Faial, em resultado da descoberta de vestígios de um naufrágio na Baía da Horta, aquando de um estudo de impacte ambiental, no âmbito da requalificação da frente marítima da cidade.
“Havia uma grande curiosidade, porque toda a gente falava das presas de marfim, dos dentes de elefante e toda a gente ia para ali ver o que se estava a passar”, salientou Carla Dâmaso, do Observatório do Mar dos Açores.
Segundo José Bettencourt, os dentes de elefante encontrados suscitaram dúvidas, tendo em conta que não havia qualquer registo de vestígios arqueológicos naquela zona.
“Confirmou-se que era um naufrágio e outras evidências que apareceram, outros materiais arqueológicos, permitiram perceber que era um naufrágio provavelmente de inícios do século XVIII de um navio inglês, que estaria a fazer escala na Horta”, frisou.
Para o arqueólogo, este achado é “a evidência mais antiga da importância estratégica que a Horta passou a ter nessa altura e que mantém até hoje na navegação do Atlântico”.
Na exposição, vão estar patentes, para além dos dentes de elefante, pratos de estanho, cachimbos, botões de punho e um tinteiro recolhidos na Baía da Horta, que integravam a primeira versão da mostra, mas juntam-se também peças do espólio do Museu de Angra do Heroísmo, que, segundo o seu diretor, Jorge Paulus Bruno, é “vastíssimo”.
“O Museu de Angra acompanhou as primeiras intervenções arqueológicas subaquáticas nos Açores, nos anos 70, na ilha Terceira”, frisou, acrescentando que o espólio sobre esta temática é composto por “milhares de peças”.
Jorge Paulus Bruno destacou nesta exposição uma âncora com três metros, exposta pela primeira vez, levantada na Baía das Mós pelos norte-americanos destacados na Base das Lajes, que pertenceu a um “navio almirantado espanhol, da conquista da ilha Terceira pelos espanhóis”.
Outro objeto realçado é um balde de madeira de inícios do século XVII, “em excelente estado de conservação” que, segundo José Bettencourt, “mesmo a nível nacional é uma peça excecional”.

 

Lusa

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