Mais de dois mil romeiros fazem-se à estrada a partir de hoje em São Miguel

Entre 2.200 a 2.300 homens voltam a incorporar-se este ano nas tradicionais romarias da Quaresma que saem para as estradas de São Miguel, nos Açores, a partir de hoje 

“O número de romeiros mantém-se. Não há decréscimo de irmãos, embora possa haver no número de ranchos”, afirmou Carlos Sousa Melo, presidente do Grupo Coordenador do Movimento dos Romeiros de S. Miguel, em declarações à Lusa.

Estas romarias quaresmais, segundo a tradição, tiveram origem na sequência de terramotos e erupções vulcânicas ocorridas no século XVI na ilha, que arrasaram Vila Franca do Campo e causaram grande destruição na Ribeira Grande.

A criação de um Rancho de Romeiros depende da aprovação do pároco, depois de ouvidos o Conselho Pastoral e o Grupo Coordenador dos Romeiros de S. Miguel, mas só homens podem participar nestas romarias.

Carlos Sousa Melo explicou que o número mínimo para constituir um rancho “ronda os 20 elementos”, considerando que “sair com menos irmãos é arriscado para manter a oração em voz alta, principalmente quando os ranchos atravessam as localidades”.

“No ano passado, três ranchos não saíram por falta de irmãos, mas ninguém fica sem participar numa romaria, já que há sempre a possibilidade de se incorporar noutra romaria vizinha” explicou, acrescentando que este ano há 52 ranchos, saindo os primeiros hoje e no domingo para uma caminhada que dura uma semana.

Trajando um xaile, lenço, bordão e terço, os romeiros de S.Miguel fazem um percurso de oração, fé e reflexão, entoando cânticos e rezando.

Os ranchos são organizados e devem cumprir um percurso, sempre com mar pela esquerda, passando pelo maior número possível de igrejas e ermidas de S. Miguel.

Carlos Sousa Melo sublinhou que este é “um momento único”, admitindo que “a perceção ao longo dos anos demonstra que há menos pessoas a participarem em pagamento de promessas”, acrescentando que as romarias são “um retiro espiritual”, durante o qual os romeiros procuram “uma ligação próxima com Deus e um tempo de aprofundar a fraternidade”.

A data da saída para a estrada é definida em conjugação com o grupo coordenador, impondo a tradição que os primeiros partam no fim-de-semana a seguir à quarta-feira de cinzas e os últimos regressem às suas localidades na quinta-feira santa.

Durante a semana em que estão na estrada, os romeiros dormem em casas particulares ou em salões paroquiais, devendo iniciar a caminhada antes do amanhecer e entrar nas localidades logo a seguir ao por do sol.

Carlos Sousa Melo sublinhou que as populações continuam “muito recetivas” no “acolhimento extraordinário” aos romeiros em casas particulares e sempre que tal não é possível os ranchos pernoitam em salões paroquiais ou filarmónicas, um acolhimento que “é sempre previamente preparado”.

A importância desta tradição leva o Governo regional, todos os anos, a dispensar do serviço, “sem prejuízo de quaisquer direitos e regalias, os trabalhadores da administração pública regional que participem nas romarias.

 

Lusa

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