Em declarações à agência Lusa, Fátima Viveiros salientou, contudo, que acredita que é possível monitorizar um eventual “aumento enorme de dióxido carbono”, apesar das condições meteorológicas adversas sentidas na ilha.
“[Com mau tempo], ao nível dos gases só conseguimos fazer metade do perfil que gostaríamos porque quando chove o terreno fica de tal forma molhado que o gás não sai. Chega ali às camadas superficiais do terreno e está tudo, na linguagem corriqueira, empapado e não ascende à superfície”, explicou.
A coordenadora das operações destacou que a equipa do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA) na ilha, composta por sete pessoas, vai continuar “todo o dia no campo”.
“Se estivesse num período de monitorização normal, hoje não tinha feito medições porque sei que aqueles valores não são os melhores possíveis. Dadas as circunstâncias, fizemos de qualquer forma, mas os valores acabam por ser ligeiramente condicionados pelas condições de chuva e de vento”, afirmou.
A investigadora disse acreditar que vai ser possível detetar “um aumento enorme de dióxido de carbono” caso venha a acontecer, apesar das condições meteorológicas.
“Obviamente vai condicionar nas pequenas variações que se possam verificar, mas se for um incremento generalizado penso que conseguiremos detetar porque a alteração será tão significativa que, eventualmente, conseguiremos detetar. Mas isto é a falar no âmbito teórico”, apontou.
O CIVISA, disse, encontra-se a atualmente a instalar recetores para analisar a “deformação do terreno” e a “reforçar as estações permanentes”, quer da sismologia, quer da deformação crustal.
Até ao momento, a equipa ainda não registou quaisquer “variações significativas” na emissão de gases, mas a coordenadora destacou que não é possível garantir que “esteja tudo bem”.
“Quando vamos ao médico e fazemos análises, algumas estão normais e outras talvez não. E não quer dizer que por umas estarem normais, que estejamos de completa saúde. A comparação é um bocadinho essa”, exemplificou.
E prosseguiu: “A questão é um bocadinho ao contrário. Se começarmos a identificar valores anómalos isso é um grande sinal. O não ter não nos deixa completamente descansados”.
Fátima Viveiros revelou que o CIVISA tem analisado áreas que têm sido reportadas pela população como estando com “cheiro a enxofre”, mas a investigadora alertou que, perante uma situação como uma crise sismovulcânica, as pessoas “acabam por dar conta de cheiros que estiveram sempre lá”.
“A gente não pode descurar qualquer sinal que nos seja dado. Ontem [quinta-feira] à tarde fomos fazer medições num edifício nas Velas que nos foi reportado que, eventualmente, tinha cheiros a enxofre, mas quando chegamos ao edifício disseram que até podia ser das fossas e não detetámos nada”, disse.
Na quarta-feira, o CIVISA elevou o nível de alerta vulcânico na ilha de São Jorge para V4 (de um total de cinco), o que significa “possibilidade real de erupção”.
As ilhas do grupo central dos Açores, onde se inclui a ilha de São Jorge, estão sob aviso amarelo devido às previsões de chuva, entre hoje e sábado.
Já hoje, o CIVISA revelou que, nas últimas horas, foram sentidos cinco sismos pela população da ilha de São Jorge, acrescentando que a atividade sísmica continua “acima do normal”.
A ilha de São Jorge está organizada administrativamente em dois concelhos, Velas e Calheta, onde vivem, respetivamente, 4.936 e 3.437 pessoas, segundo os dados provisórios dos censos da população de 2021.
Lusa