O Natal, para mim, é a grande celebração da vida. Das nossas vidas.
Nenhum outro momento festivo, à escala global, convoca mais a alegria e a paz.
Nenhuma outra evocação junta melhor a esperança aos que estão tomados pela tristeza. E como na vida as tristezas não nos poupam, é muito importante nunca nos vermos privados da esperança.
O Natal – para os cristãos, como para a maioria dos homens e das mulheres por este mundo fora – é um tempo simultaneamente de trégua e de acção.
De trégua, para os que se desirmanaram. De quietação para os que se combatem. De maior serenidade para os que se agitam. De reflexão para os que se precipitam no imprevisto.
É também um tempo de acção. O Natal, reproduzindo o nascimento de Jesus, reacende a luz prometedora e instiga a aptidão, que todos conservamos no nosso interior, para renascer: a capacidade de recomeçar ou de fazer mais, de fazer melhor, de fazer diferente – de cumprir a promessa de Ano Novo.
Na relação com o próximo, na quadra natalícia, a fraternidade ganha mais vezes que o egoísmo. São tantos, felizmente, os que beneficiam deste impulso generoso e só é pena que ele não seja mais duradouro e até constante.
Olhamos em redor e descobrimos, com outra clareza, o que falta e o que sobra, compreendendo que fazemos parte desse todo, onde contribuímos, em mais ou em menos, para o seu melhor como para o seu pior.
É bom sentir que ajudamos, ou que podemos ser ajudados. Sobretudo, é imprescindível ajudar. Não falo da caridade farisaica, televisionada, ostentatória, dos que anunciam previamente a sua prodigalidade para bem parecer; dos que fotografam os que recebem, para aparecerem afinal os que dão. Falo da solidariedade a sério: dos que dão o que podem e não dos que mostram o que dão. Falo, pois, também, da generosidade que vence a vaidade. Em suma, da verdadeira solidariedade do Natal. Essa é a que mais interessa, a que é mais verdadeira e aquela a que apelo junto de todos os açorianos.
Nestes últimos anos, nesta mensagem de Natal, chamei muitas vezes a atenção para as notícias das crises dos países e das economias externas, cujos efeitos se fazem sentir agora com maior intensidade nas nossas ilhas. Como disse recentemente, levar os Açores para a frente, com a Europa e o País a puxarem para trás, tem sido mais difícil. Porém, apesar de todas as dificuldades que estamos a sentir por essas razões – nas empresas, no emprego e no rendimento das famílias – temos conseguido, e vamos continuar a conseguir, que a crise, que nos chegou mais tarde, seja menos penosa do que no Continente e na Madeira está a ser e que seja entre nós ultrapassada mais cedo.
Mesmo a situação financeira da Região, que uns gostam tanto de desmerecer, tomara que o País e muitos outros tivessem uma situação igual ou parecida. Estariam, todos, certamente, bem mais aliviados.
Os Açores têm resistido melhor – isso, quase todos o reconhecem. Mas, para mim, o mais importante é que, reagindo a essas adversidades que se acercaram, os políticos – pela sua acção no governo, no parlamento, nas câmaras municipais e junto dos cidadãos – sejam capazes de, nos Açores, auxiliar os mais frágeis com os apoios possíveis, segurar as empresas viáveis que estão em dificuldade, proteger melhor os jovens casais, ajudar a manter empregos, dar alternativas aos que ficaram sem modo de vida útil, e apoiar as famílias nos tratamentos contra a doença, na educação e alimentação dos seus filhos e no cuidado aos seus idosos. São essas, neste momento, as minhas principais preocupações.
Todos sabemos que estamos muito dependentes da recuperação europeia e da recuperação portuguesa – para já não falar de outros lugares, como nos Estados Unidos, onde temos tantos açorianos – e todos sabemos igualmente que a retoma, nos Açores, do caminho de progresso que estávamos a trilhar, vai obrigar-nos ainda a sacrifícios e a mais aborrecimentos. Todos os dias chegam-nos medidas de fora, sejam em impostos sejam em mais custos na saúde, que exigem uma enorme ponderação na sua aplicação, às vezes obrigatória, e um enorme esforço por parte do Governo Regional para, ao mesmo tempo, proteger a Região e não prejudicar mais as pessoas. Não devemos nem temos que fazer sempre o que os outros fazem lá fora – para isso é que serve a nossa Autonomia –, mas são decisões e tarefas muito difíceis que temos de empreender diariamente, com responsabilidade face ao futuro e da melhor forma no presente.
É preciso, pois, ter iniciativa e confiança: depois da tempestade virá certamente a bonança. Todos, sejam quais forem as suas opiniões e funções, devemos estar a remar no mesmo sentido, a dar força aos Açores e a recuperar a tranquilidade que merecemos.
Vivemos, mesmo assim, numa terra de ilhas encantadas: não tenhamos dúvidas! Por esse mundo fora, morre-se de fome e abandonado na doença; tornam-se vítimas de guerras os que nem sequer compreendem as suas causas; rebentam bombas e eclodem catástrofes que já só no Natal têm direito a ser notícia; multidões fogem sem destino e sem refúgio. Por isso, temos de aprender a viver, na nossa terra, de acordo com as nossas possibilidades e necessidades, e não pensar que se pode ter o que se quer e que é o Governo que o tem de garantir. Se ambicionamos mais para a nossa Região, se queremos que ela seja melhor, não há dúvida de que, por esse Mundo fora, falta muita bondade, muita nova consciência e muita vontade para que ele seja pelo menos tolerável para os que nele vivem e mais aproximado do bem estar que aqui temos.
Vamos dar um bom exemplo no nosso Natal! Praticar a solidariedade e viver com responsabilidade e com esperança.
Esta é a última Mensagem de Natal que dirijo na minha qualidade de Presidente do Governo, visto que cessarei as minhas funções dentro de pouco menos de um ano. Continuarei, entretanto, a servir a minha terra e os meus concidadãos, a quem devo tudo e a quem dou o que tenho.
A todas as açorianas e açorianos, a todos os amigos dos Açores, onde quer que residam ou onde quer que estejam, seja nas Américas seja na Europa, e, de modo especial, aos que labutam nas nossas ilhas das Flores, do Corvo, de São Jorge, do Pico, do Faial, da Graciosa, da Terceira, de São Miguel e de Santa Maria, desejo, em nome do nosso Governo e em nome da minha família, umas boas festas e um ano novo cheio de felicidades.