Realço sempre, nesta ocasião em que me dirijo a todos os açorianos, o significado acumulado deste período festivo que estamos a viver: o Natal e o Ano Novo.
É uma época que nos estimula para uma avaliação do nosso papel na sociedade que nos rodeia, que favorece a nossa reflexão sobre o que fizemos e sobre o que estamos a fazer, que convoca lembranças e sentimentos que enformam as nossas vidas; mas é também um tempo de renovo e de esperança que alimenta a nossa ambição de viver melhor, com os outros e para os outros.
O espírito do Natal, forjado na boa nova do nascimento de Jesus, é, pois, um apelo de intimidade que a todos toca e através do qual percepcionamos a vida com outra energia e outra sensibilidade, com outro regozijo, mas também com outra consciência das nossas omissões e dos actos que julgamos culposos. Olhamos em redor e descobrimos, com outra evidência, o que falta e o que sobra, compreendendo que fazemos parte desse todo, onde contribuímos, em mais ou em menos, para o seu melhor como para o seu pior.
É curiosa e singular essa propensão introspectiva do tempo de Natal, e também como, olhando para o nosso interior, vemos de outra maneira este nosso Mundo, onde se revelam, com outra proximidade e outra força, muito mais os infortúnios do que as venturas alheias. No Natal, ficamos tomados por afectos e por um sentimento tão universal e fraterno que compreendemos como tudo seria estupendo se o mundo fosse, por mais tempo, movido por esses sentimentos.
Pelo contrário, faz muita falta essa sensibilidade para evitar e ou resolver tantos problemas. Milhões de pessoas, espalhadas pelos continentes, vivem abaixo do limiar da pobreza e outros morrem diariamente de fome e sem assistência médica, todos desprotegidos e entregues à sua falta de sorte – felizmente nada que aconteça entre nós! Sociedades inteiras vivem em guerra, seja ela a motivada pelo terrorismo, seja ela a chamada guerra “preventiva”, seja, ainda, a fomentada pela criminalidade internacional e local organizadas, que decepam vidas em todos os segundos de todos os minutos. Felizmente não temos essas desolações nos Açores!
Mas as nossas sociedades podem ser salvas pela bondade e pelo verdadeiro sentido da vida que está em cada um de nós. O Natal é, afinal, um dos períodos mais incitadores para o exercício dessa cidadania requerente, que é, como quem diz, da melhor ética e da maior responsabilidade social.
Por todos os lugares – da América à Europa e ao Oriente – ainda se repercutem as consequências para a vida das famílias desta crise financeira e económica global. Vemos e ouvimos, com inusitada frequência, nestes últimos meses, notícias de falências de grandes empresas, de despedimentos colectivos, de migrantes sem destino à procura de meios de subsistência, e até de países ricos que colapsam com surpreendente fragilidade. E apesar de nos Açores esses efeitos terríveis da crise serem, felizmente, muito menores, temos também sectores e empresas em dificuldades e um acréscimo do número de pessoas à procura de emprego. Essas percepções devem contribuir para avivar as nossas consciências e o nosso empenhamento cívico numa impulsão ética e política promotora do progresso e da justiça em simultâneo.
Tivemos há dias a boa notícia de que a nossa economia cresceu no ano passado mais do que em qualquer outra região do nosso país. Mas sabemos que o desemprego subiu ligeiramente, embora seja também o mais baixo em Portugal, e que temos tido menos consumo e menos turistas por causa das crises nos seus países de origem, ocasionando uma menor actividade das nossas empresas. Sabemos, pois, que temos de ultrapassar esses entraves que afligem as famílias açorianas, desgastam os nossos empresários e a sua capacidade de gerar emprego e trabalho bem remunerado. Sabemos que temos de melhorar muito a qualificação dos açorianos para termos sucesso nesta competição global em que nos inserimos. São tarefas difíceis no tempo actual, mas que confiamos desenvolver com sucesso no Ano Novo que agora vai começar.
Precisamos também de prosseguir a obra entusiasmante que temos feito de apoio à infância, aos idosos, às pessoas com necessidades especiais, aos carenciados de habitação e às famílias com problemas graves, para que todos se sintam mais seguros e mais confiantes no futuro.
Todos, porém, têm de colaborar. Quem tiver capacidades tem de se formar e qualificar. Quem puder e tiver trabalho não tem o direito de o recusar e pensar que pode viver à custa de todos nós. Quem puder participar tem o dever de colaborar. Quem souber criticar não se deve eximir a propor e a construir. Ninguém deve viver só para si, porque ninguém sobrevive só. Sentir o Natal tem a ver com tudo isso! Os Açores precisam de pessoas a agir assim.
A todas as Açorianas e Açorianos e – de forma muito expressiva – aos nossos concidadãos residentes no estrangeiro, bem como aos imigrantes que estão a trabalhar e a residir nas nossas ilhas, desejo, em meu nome pessoal e no da minha família, e em nome do Governo dos Açores, um Natal feliz e muita saúde e prosperidades em 2010.
Bom Natal.