“O tempo dificultou um bocado, mas apesar disso conseguimos reunir os 100 mil voluntários que queríamos. As opiniões técnicas é que conseguimos recolher 70 mil toneladas de lixo”, relatou à Lusa Paulo Torres, um dos três coordenadores nacionais e mentores do projeto. Dentro de dias, sublinhou, os aterros sanitários e as entidades de reciclagem poderão confirmar os números com mais precisão.
O mesmo responsável acrescentou que o lixo foi “apanhado pelo país fora, sem zonas melhores ou piores” ou nas quais a recolha tenha sido mais intensa. Ainda assim, adiantou que “apenas no concelho de Braga recolheram-se 400 toneladas” de lixo, “essencialmente em terrenos de floresta” e “estradas no meio de bouças”.
“Estamos bastante satisfeitos com o resultado e achamos que conseguimos passar a mensagem”, reforçou Paulo Torres, acrescentando que apenas se registou um problema com um dos elementos que recolhia lixo no âmbito da iniciativa.
“Tivemos um acidente com um voluntário de Condeixa, que estava no ‘Limpar Portugal’, foi atropelado e está no hospital”, avançou o mesmo responsável. “Não é um ferimento ligeiro, mas penso que está livre de perigo”, sublinhou Paulo Torres.
A ideia de recolher resíduos espalhados nas matas surgiu em julho passado, quando o técnico de logística Nuno Mendes, de 38 anos e residente em Vila Nova de Famalicão, publicou no fórum da Internet do clube LandMania (para fãs de veículos Land Rover) um vídeo sobre um projeto concretizado em toda a Estónia, onde se reuniu mais de 10 mil toneladas de lixo.
A legenda “Para quando em Portugal?” suscitou de imediato o interesse dos associados Rui Marinho, com 43 anos e gerente de uma empresa de produtos químicos em Santo Tirso, e Paulo Torres, empresário de comércio de 50 anos e morador em Braga.
Nenhum tinha até então estado envolvido em associações ambientais, mas todos partilhavam uma preocupação: o lixo que encontravam durante os passeios em todo-o-terreno, desde para-choques, pneus, resíduos industriais e entulhos de obras a eletrodomésticos e sofás.
Com uma rápida divulgação na Internet, o projeto acabou por ganhar a atenção da comunicação social, das autarquias, de empresas públicas e privadas, do Ministério do Ambiente (que concedeu apoio logístico e jurídico) e da Presidência da República, que lhe atribuiu o alto patrocínio.
Os mentores acreditam que o facto de este ser um movimento cívico, que não aceita dinheiro, foi crucial para o envolvimento “espetacular” da sociedade, que resultou na identificação de cerca de 13000 pontos com lixo em todo o país, entre florestas e terrenos urbanos.
“Esperamos não ter de repetir, que as pessoas tenham compreendido a mensagem e que procurem desfazer-se do lixo de maneira conveniente”, sublinhou hoje Paulo Torres.
Foto – Eduardo Costa