7 de abril foi a data escolhida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para celebrar o Dia Mundial da Saúde. Desde 1950 que aquela organização escolhe um tema central para ser debatido, passando esse a ser uma prioridade na sua agenda internacional.
Este ano, o tema em destaque será a “Saúde para todos”.
Imaginando que tal temática não tenha sido especialmente dirigida aos utentes açorianos, julgo que se enquadra perfeitamente na nossa realidade geográfica, assim como nas dificuldades que os profissionais da área, dos auxiliares aos médicos, enfrentam
diariamente. E são, todos eles, o maior património do Sistema Regional de Saúde.
Porém, considero que os açorianos não podem viver reféns da sua condição arquipelágica no que concerne aos cuidados de saúde! A qualidade do Sistema Regional de Saúde é imperiosa para que possa haver confiança no mesmo. Da mesma forma que a inovação, e as respostas criadas com base nas necessidades que vão surgindo, devem ser prioridades diárias de quem governa.
Nos Açores, temos listas de espera cirúrgicas proporcionais à distância que separa o Corvo de Santa Maria. Os últimos dados disponibilizados são prova disso mesmo. Atualmente, temos 11 mil 620 açorianos inscritos a aguardar a realização de uma cirurgia.
São números que representam pessoas! E o Governo Regional não mostra capacidade cirúrgica para resolver o problema.
Nos Açores, a deslocação de médicos especialistas às ilhas sem Hospital, encontra-se em “banho maria”, aguardando que a portaria que deveria ter sido tornada pública em final de fevereiro, saia finalmente da gaveta…enquanto tal não acontece, os açorianos aguardam resignados, respeitando a sua condição de ilhéu.
Nos Açores, a Saúde Mental é uma prioridade para todos! No entanto, a implementação da Rede Regional de Cuidados Continuados Integrados de Saúde Mental, anunciada em maio de 2016, tarda em chegar, embora já tenha sido regulamentada.
Nos Açores, há um hospital com o equipamento de Radioterapia instalado que aguarda, desde fevereiro de 2017 e segundo o atual Secretário Regional da Saúde, “questões de licenciamento” para entrar em funções. No entanto, recordo que também desde fevereiro de 2017, e com base em declarações do mesmo governante, a Direção-geral da Saúde “já emitiu a licença provisória” para o aparelho funcionar. Até ao momento, o mesmo
continua em “off”.
Nos Açores, como em outros locais do país, há um problema de fixação de médicos, sendo que anualmente existe uma verba de 100 mil euros para ajudar a resolver o problema. Acontece que essa é uma verba residual, e que até agora de pouco serviu. No entanto,
também nos Açores, é por vezes necessário cobrir necessidades pontuais de falta de médicos, pagando-lhes mais de 5000 euros por mês, valor que atualmente nenhum recém-especialista, em qualquer parte do país, irá auferir ao longo da sua carreira.
Este é um cenário cor-de- rosa, um cenário que obviamente por ser dinâmico tem vindo a sofrer transformações e boas adaptações, mas que continua aquém do que se exige para fazer face às necessidades dos utentes dos Açores. E para que, de certa forma pudéssemos perspetivar uma “Saúde para todos”. Resta-nos, pois, os profissionais do setor, que de forma heroica, são muitas vezes a “nossa saúde”!
Mónica Seidi | Abril 2018