Letra M.
Coincidência ou não, na semana em que inicio a minha colaboração mensal com esta
publicação, comemorou-se o Dia Internacional da Mulher. E nada deve ser por acaso.
Em Portugal o sexo feminino domina, com 52.6% da população, que em números se
traduz em 5.439 milhões de mulheres. Mas, se somos a maioria da população, porque
estamos em minoria nos lugares políticos e de decisão?
Se, na Assembleia da República, as mulheres correspondem a 1/5 do universo, na
ALRAA somos (apenas) 14, sendo a Presidente da Assembleia do sexo feminino.
Mesmo quando o poder político dado às mulheres é um direito de cidadania.
Porque a política precisa das mulheres! Precisa dos nossos interesses, das nossas
preocupações sociais, da nossa sensibilidade para perceber problemas alheios e da
nossa inteligência prática, permitindo, de forma mais fácil, conseguir a humanização
da classe política. Em detrimento de números, de défices, de mercados e orçamentos,
dos quais muitas vezes o povo prefere nem ouvir.
Com a promulgação da lei da paridade, em 2006, a mulher passou uma maior
relevância no meio. Contudo, ao analisarmos o impacto que a medida teve até agora,
facilmente percebemos que os resultados estão ainda longe do desejado. A título de
exemplo, na Assembleia da República, só em 2015 se atingiu o limiar da paridade,
segundo o que está definido por lei, e de forma rotineira, os primeiros dois lugares das
listas são ocupados (maioritariamente) por homens, sendo que as mulheres (e sem
menosprezar) surgem no 3º, 6º e 9º lugar. (1)
Em Portugal, tivemos até ao momento uma única mulher a ocupar o cargo de
Primeiro-ministro. Maria de Lourdes Pintasilgo fê-lo durante 5 meses, num governo de
iniciativa presidencial. Ao nível do poder local, e após as penúltimas Autárquicas,
apenas 23 mulheres eram presidentes de câmara, das 308 existentes.
Mas existem outros sectores onde a representatividade das Mulheres também é
deficitária. Por exemplo, o número de mulheres diplomadas em Tecnologias de
Informação e Comunicação é muito inferior quando comparado com o sexo oposto –
19.8% versus 20.2%. Olhando para a remuneração média de base, as mulheres
auferem em média 824.99 euros e os homens 990.05 euros (menos 165.66 euros). Nos
dias que correm, esta desigualdade salarial é estupidamente aceite por todos nós e, à
medida que aumenta o nível de qualificação, o diferencial salarial é cada vez maior. (2)
É inegável que uma boa parte do nosso caminho já foi trilhado, no entanto, e apesar
desses avanços há ainda muito trabalho por fazer. Não nos podemos acomodar. Não
estamos a pedir favores, estamos apenas a lutar por uma sociedade melhor, mais justa
e mais equilibrada. Vamos a isso!
1- Santos, MH. “Balanço da implementação da Lei da Paridade em diferentes níveis de governo – Análise longitudinal”-publicado a 6/3/2018 acedido www.cig.gov.pt
2- http://www.gep.msess.gov.pt/
Mónica Seidi – Março 2018