Mónica Seidi | Quanto vale o feminino da palavra “AÇORES”?

Mónica Seidi - Médica e Deputada PSD/Açores

O setor feminino da competição desportiva tem, infelizmente, nos Açores vários exemplos de falta de reconhecimento na atribuição de apoios às equipas e atletas, apesar de as mulheres que representam a Região conseguirem excelentes resultados nas provas em que participam.
É um facto incontornável que o número de participantes femininos nas atividades desportivas tem vindo felizmente a crescer entre nós.
Contudo, o setor é ainda dominado pelo género masculino. E parece-nos plausível relembrar que, tradicionalmente, as mulheres açorianas têm menos tempo para atividades sociais, onde se inclui a prática desportiva.
Nos Açores, as políticas desportivas encontram-se agregadas no Regime Jurídico de Apoio ao Movimento Associativo Desportivo.
Contudo, também a Resolução do Conselho do Governo nº91/2017, de 10 de agosto de 2017, autoriza a concessão de apoios financeiros aos clubes açorianos que participam regularmente nas provas nacionais em várias modalidades (futebol, basquetebol,
voleibol, andebol, hóquei em patins, ténis de mesa, futsal e automobilismo), tanto em masculinos como em femininos. Isto desde que participem no nível competitivo mais elevado, e tenham obtido a melhor classificação na época desportiva anterior,
independentemente da competição ser ou não de nível profissional.
Perspetiva-se que assim poderão contribuir favoravelmente para a promoção externa da região.
Na presente época desportiva, usufruem deste apoio – vulgarmente tratado como palavra “Açores” – 13 clubes, e ainda o campeão açoriano de ralis. Desse universo, 3 equipas são do género feminino, usufruindo de 4.2% do valor total dos prémios atribuídos, o que equivale a 78.416.54 mil euros. As equipas masculinas, em “pé de igualdade” com as femininas, recebem o montante de 256.210.27 mil euros. Sublinhe-se que não há diferenças de nível competitivo, ou seja, todos os clubes beneficiados participam nas
divisões nacionais mais elevadas das respetivas modalidades (basquetebol, voleibol, ténis de mesa).
Esta discriminação no valor atribuído torna-se ainda mais incompreensível se analisarmos o “palmarés” desportivo das equipas femininas, sem menosprezar todo o esforço e trabalho dos homens: o Clube União Sportiva sagrou-se esta época, pela terceira vez, Campeão Nacional da Liga Feminina de Basquetebol, além de que já venceu uma Taça de Portugal e uma Supertaça, tendo participado também em competições Europeias.
No Voleibol, apesar da presente época não ter sido brilhante, o Clube Desportivo Ribeirense, é desde há muitos anos uma referência na modalidade, conquistando 3 campeonatos nacionais e 4 taças de Portugal, e também participou em provas internacionais, levando a palavra “Açores” inscrita nas suas camisolas além-fronteiras. Na presente época, o Clube K, que não adquiriu o direito desportivo de receber aquele apoio, sagrou-se Vice-campeão do campeonato Nacional de elite da 1ª divisão de voleibol feminino, perdendo apenas no 5º jogo da final.
Finalmente, o Centro Social do Juncal, na modalidade de Ténis de Mesa feminino, foi campeão nacional da 1ª divisão em 2014, além de que as suas atletas integram regularmente a Seleção Nacional da modalidade, mantendo-se uma equipa altamente competitiva.
Sem querer criar uma “nova guerra” entre sexos, penso que é chegada a altura de acabar com esta discrepância de valores, sem que haja qualquer prejuízo para as equipas que atualmente usufruem do apoio, pois precisam dele como de “pão para boca”.
Mas há-que torná-lo mais justo, mais equitativo e menos discriminatório, sem que tenhamos que contestar o real valor do sexo feminino. O desporto açoriano ficará, certamente, agradecido pela igualdade.

 

 

Mónica Seidi / Maio 2018

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