Fidel Castro, o líder da Revolução Cubana que morreu na sexta-feira, aos 90 anos, foi um dos homens mais carismáticos e controversos da História política do século XX e era a última grande figura do comunismo ocidental.
“O último revolucionário” e o homem que “atormentou” dez Presidentes dos Estados Unidos, como escrevem o El Pais e o The New York Times, liderou Cuba durante 47 anos, até passar o poder ao irmão mais novo, Raul Castro, em 2006, mas o “pai da revolução cubana” continuou a exercer influência e a marcar a identidade coletiva do país.
Fidel Castro nasceu a 13 de agosto de 1926, em Birán, uma pequena localidade do município cubano de Mayari, no seio de uma família de origens galegas. Apenas aos 17 anos foi reconhecido pelo pai e registado com o nome definitivo: Fidel Alejandro Castro Ruz.
Frequentou escolas de jesuítas e, depois, a Universidade de Direito de Havana, onde começou a participar em ações de agitação.
Teve dois filhos, um com a mulher com quem casou em 1948 e Alina, fruto de um caso extraconjugal, que só aos 10 anos soube ser filha de Fidel e se exilou nos EUA.
Após um longo e conturbado período como opositor do regime de Fulgêncio Batista (um aliado dos Estados Unidos), o guerrilheiro Fidel Castro e o seu companheiro de luta Che Guevara chegaram a 01 de janeiro de 1959 a Havana e a Revolução Cubana fazia a sua entrada na História.
Em 1961, declarou Cuba um Estado socialista e os EUA cortaram relações diplomáticas com Havana, que se prolongaram até 2015. Em março deste ano, Barack Obama tornou-se no primeiro Presidente norte-americano em funções a visitar a Cuba em 88 anos.
No entanto, dura até hoje o embargo económico dos EUA a Cuba, iniciado também em 1961.
Fidel resistiu à oposição de dez presidentes norte-americanos (Eisenhower, Kennedy, Johnson, Nixon, Ford, Carter, Reagan, Bush pai, Clinton e Bush filho), numa relação com os EUA que transportou a Guerra Fria para o continente americano.
Desde o triunfo da revolução, Cuba manteve relações estreitas com o bloco socialista europeu. Até à queda da União Soviética, em 1991, recebeu ajuda económica e militar do país, mas o fim do bloco comunista fez Cuba mergulhar numa crise económica.
Fidel chegou ao poder apoiado pela maioria dos cubanos, prometendo reinstaurar a Constituição de 1940, criar uma administração honesta, restabelecer liberdades civis e políticas e realizar reformas moderadas.
Mas recebeu acusações da comunidade internacional de autoritarismo, radicalismo e violação aos direitos humanos, além de perseguição a religiosos e homossexuais.
Milhares de cubanos deixaram o país, de maneira legal ou ilegal, por não estarem de acordo com o governo ou por causa da situação económica.
A 31 de julho de 2006, Fidel Castro afastou-se devido a problemas de saúde e delegou o poder em Raul Castro, que começou um processo de abertura e de reformas no país, reconhecido em 2009 pela União Europeia, que levantou nesse ano as sanções a Havana.
“Desejo só combater como um soldado das ideias. Continuarei a escrever (…). Será mais uma arma do arsenal com que se poderá contar”, escreveu Fidel no dia em que renunciou.
Durante a última década, fez poucas aparições públicas, foi dado como morto várias vezes na Internet e nas redes sociais e manteve um contacto regular com o mundo através dos seus artigos.
Também era um anfitrião para Presidentes e outras personalidades que visitavam a ilha caribenha, como aconteceu no mês passado com o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, que foi recebido por Fidel quando visitou Cuba.
Os mais assíduos foram os aliados bolivarianos, os Presidentes da Bolívia e da Venezuela, Evo Morales e Nicolas Maduro (e o seu antecessor Hugo Chávez) respetivamente, mas também recebeu o papa Francisco em setembro de 2015, o chefe de Estado francês François Hollande quatro meses antes e o patriarca ortodoxo russo Kiril em fevereiro deste ano.
Num país em crise económica e desafiado pelas consequências da normalização das relações com os Estados Unidos, a figura e as palavras de Fidel Castro continuavam a ter eco na política e na sociedade cubanas, sendo ainda uma inspiração para os que querem manter uma ortodoxia revolucionária face à crescente pressão para uma maior abertura política e económica.
“Reiteramos o compromisso de permanecermos fiéis às ideias pelas quais [Fidel Castro] lutou ao longo da sua vida”, afirmou este ano o “número dois” do Partido Comunista Cubano (PCC).
Foi a 13 de agosto, quando fez 90 anos, que apareceu pela última vez publicamente.
Meses antes, em abril, no VII Congresso do Partido Comunista de Cuba, fez um discurso que soou a despedida.
“Talvez esta seja a última vez que falo nesta sala. Em breve cumprirei 90 anos, não em resultado de nenhum esforço mas por capricho do destino. Sou como todos os demais: também chegará a minha hora”, disse.
“A todos chegará a sua vez, mas as ideias dos comunistas cubanos permanecerão como prova de que neste planeta, se trabalharmos com fervor e dignidade, podemos produzir os bens materiais e culturais que os seres humanos precisam e devemos lutar incansavelmente para obtê-lo”, defendeu.
Lusa