O Museu de Angra do Heroísmo adquiriu recentemente, em Londres, um livro manuscrito de orações hebraicas, da autoria de Mimon Abohbot, um judeu de origem marroquina que se estabeleceu nesta cidade açoriana no século XIX.
“O livro tem elevado interesse para a história da ilha Terceira, uma vez que possui inúmeras anotações sobre a comunidade judaica local”, afirmou Jorge Bruno, director do museu, em declarações à Lusa.
Trata-se de um ‘Tefillat Yesharim’, expressão que significa “a oração dos que seguem o caminho direito”, que pode ser admirado desde hoje no Museu de Angra do Heroísmo, onde estará patente até Janeiro.
Jorge Bruno salientou que “o livro é encadernado com dourados e contém orações para diferentes situações”.
“Está todo escrito em hebraico, escrita sefardita, e foi necessário recorrer a um especialista em Israel para efectuar a tradução”, revelou o director do Museu de Angra do Heroísmo.
O livro teve como modelo a obra do rabi David Bem Rephael Meldola, que publicou em 1740, em Amesterdão, a primeira das obras com aquela designação, seguindo o rito sefardita da comunidade judaico-portuguesa daquela cidade holandesa.
Mimon Abohbot, que foi um destacado líder da comunidade judaica em Angra do Heroísmo no século XIX, possuía residência na Rua da Sé, a principal artéria da cidade, onde também tinha uma sinagoga.
O templo, denominado ‘Árvore da Vida’, foi criado no antigo Mosteiro da Esperança.
E
ste líder judaico ficou conhecido como o ‘Deão dos Hebreus da Terceira’, tendo os membros de sua família que faleceram em Angra do Heroísmo sido sepultados no cemitério judaico ‘Campo da Igualdade’, no Caminho Novo.
A história da presença de judeus nos Açores, além deste livro agora adquirido pelo Museu de Angra do Heroísmo, é também documentada por uma ‘Torah’ que apareceu em 1997 numa gruta em S. Miguel.
Quando Mimon Abohbot chegou ao arquipélago trazia duas ‘Torah’, extensos rolos de pergaminho onde está manuscrito todo o texto dos cinco livros da Lei de Moisés.
Um século mais tarde, uma delas foi encontrada em Porto Judeu, nos arredores de Angra do Heroísmo, passou por vários donos, apareceu e desapareceu sucessivas vezes e acabou por ser escondida por um desconhecido numa gruta em Rabo de Peixe, na costa norte de S. Miguel, onde veio a ser encontrada em finais dos anos 90.
O governo regional promoveu o restauro da ‘Torah’, que decorreu na Biblioteca Nacional, encontrando-se agora aquele documento histórico e religioso na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada.
Lusa