O Centro Municipal de Cultura de Ponta Delgada inaugurou ontem a exposição “No Meu canto – Homenagem póstuma a Fátima Sequeira Dias”, uma mostra que dá a conhecer as várias facetas da investigadora açoriana e que antecipa uma série de iniciativas.
A exposição abriu as portas no dia em que Fátima Sequeira Dias celebraria o seu aniversário, uma forma de homenagear uma inteletual de referência em Ponta Delgada e nos Açores, que resulta de uma iniciativa da Câmara Municipal de Ponta Delgada, com curadoria de Miguel Batista e com a colaboração e disponibilidade da família da investigadora.
Na inauguração da exposição, o presidente da autarquia sublinhou o empenhamento da Câmara Municipal em “reconhecer quem entre nós se destacou e se transformou num vulto identitário de Ponta Delgada e dos Açores e que colocou a nossa identidade ao conhecimento perene de várias gerações e universal”.
José Manuel Bolieiro também destacou a forma da professora universitária estar na vida, alegre e contagiante, referindo-se ao seu legado académico e social, e anunciou que a autarquia tem outros projetos para expressar a nossa gratidão e reconhecimento para com Fátima Sequeira Dias, sendo que este é uma espécie de embrião de um outro mais estruturado”.
Dividida em cinco matrizes de difusão, a exposição agora patente no Centro Municipal de Cultura de Ponta Delgada pretende partilhar o seu mundo pessoal através de uma série de elementos que caraterizavam os seus gostos e predileções. Como referiu o filho Rodrigo, “entrar nesta exposição é como entrar em casa da minha mãe e partilhar a vida com ela!”.
Insere-se num projeto cultural desenhado pela Câmara Municipal de Ponta Delgada com o intuito de distinguir através da reprodução artística personalidades açorianas femininas que se destacaram pessoal e socialmente nos seus dons e nas suas áreas de trabalho, num projeto que se iniciou em 2015 com uma exposição sobre a vida e obra de Natália Correia.
Dos seus hábitos de escrever notas em pequenos cadernos à sua paixão pela arte, não esquecendo as suas receitas de culinária ou, até mesmo, os seus livros, a exposição inclui ainda o mobiliário do seu escritório assim como as suas ferramentas de trabalho.
A exposição está patente na Sala do Forno do Centro Municipal de Cultura de Ponta Delgada, podendo ser apreciada até 19 de novembro.
Recorde-se que Fátima Sequeira Dias, que faleceu a 7 de Janeiro de 2013, vítima de doença prolongada, dedicou grande parte do seu trabalho à história da ilha onde nasceu e viveu e, em particular, à evolução económica e social micaelense e açoriana, ao longo dos séculos XIX e XX. Em nota do CHAM, de entre os inúmeros trabalhos que publicou, destacam-se os dedicados a grandes empresas locais e aos homens de negócios que marcaram o desenvolvimento insular, como foram os casos, em especial, da empresa e da família Bensaúde, e também da SATA, da Fábrica de Tabaco Micaelense, entre outros. A presença judaica na região, bem como a herança legada por esta comunidade, também mereceram o interesse e a atenção de Fátima Sequeira Dias, que publicou diversos trabalhos sobre a temática, assim como no âmbito da história de género, com destaque para as problemáticas em torno da afirmação e emancipação da mulher na sociedade contemporânea.
Na Universidade dos Açores desempenhou variados cargos como os de diretora do Curso de História, pró-reitora para as Relações Universidade/Sociedade, presidente do Conselho Científico e presidente do Conselho do Departamento de Economia e Gestão. Era membro da Associação Portuguesa de História Económica e Social, tendo sido galardoada pela congénere internacional com o Prémio Recent Doctoral Reserarch in Economic History, em 1988. Era investigadora do CEPLA e chegou a ser investigadora integrada do CHAM entre 2009 e 2010. Foi ainda colaboradora da RTP-Açores e do jornal Açoriano Oriental.
Fátima Sequeira Dias granjeou, no meio académico, projeção nacional e internacional e era também muito querida pelos seus dotes humanos. Otimista por natureza, generosa e bem-disposta, contagiava os seus numerosos colegas e amigos com o seu sorriso fácil e bem-humorada gargalhada. Apesar de ainda ter muito para dar à sua família e à historiografia contemporânea, partiu cedo demais, mas pelo seu perfil e pela valorosa obra que deixou, a sua presença será perpetuada na memória de Ponta Delgada.