O Prémio Nobel de literatura não será atribuído em 2019, a menos que seja restabelecida a confiança na Academia Sueca, revelou o diretor executivo da Fundação Nobel, citado pelo jornal The Guardian.
Esta possibilidade foi avançada algumas semanas após o cancelamento do Prémio de 2018, na sequência de denúncias de assédio e de violência sexual e de alegações de má gestão.
A 04 de maio, a Academia Sueca – que escolhe o vencedor do maior prémio literário do mundo – anunciou que não entregaria o galardão em 2018, após acusações de assédio e abuso sexual, de 18 mulheres, contra o fotógrafo Jean-Claude Arnault, influente figura da cena cultural sueca, casado com a escritora e membro da Academia Katarina Frostenson.
A forma como a academia lidou com as alegações, que foram negadas pelo marido de Katarina Frostenson, conduziu a várias demissões, entre as quais da secretária permanente, Sara Danius, deixando apenas dez membros ativos, sendo necessários 12 para eleger novos.
Com vista a dar tempo para que o público recuperasse a confiança, a academia disse que, em vez de atribuir o prémio em 2018, escolheria dois laureados em 2019.
Segundo o The Guardian, ao passo que a Fundação Nobel – responsável pelo cumprimento do testamento de Alfred Nobel – apoiou essa decisão, o seu diretor executivo, Lars Heikensten, levantou algumas dúvidas quanto à capacidade de a academia “ter a casa em ordem” tão cedo.
No site do prémio, Heikensten afirmou: “O objetivo da academia sueca é tomar a sua decisão sobre o prémio Nobel em literatura de 2018 e anunciá-lo juntamente com o prémio de 2019. Esperemos que seja o caso, mas depende da capacidade de a Academia Sueca restaurar a confiança”.
Heikensten estava ciente de que a academia necessitava de cultivar uma abordagem mais aberta para conseguir isso. A forma como o júri decide o vencedor tem sido um segredo bem guardado ao longo dos anos, com os arquivos a serem abertos apenas 50 anos após a decisão ser tomada.
“A Academia Sueca deve ser capaz de divulgar quais as medidas concretas que estão a ser tomadas, e deve procurar ajuda externa para resolver os seus problemas”, disse Heikensten, acrescentando: “Entre outras coisas, precisam de reavaliar o cumprimento das suas regras de confidencialidade e de conflito de interesses”.
“A academia cultivou uma cultura fechada durante muito tempo, o que seria contestado uma vez ou outra (…). Acredito que, no fim, alguma coisa boa sairá desta situação, mesmo que não tenha sido esse o sentimento nas últimas semanas”.
Lusa