Aproxima-se a data para a entrada em vigor do novo Acordo Ortográfico, mas esta novidade vai ser sentida com maior intensidade nas áreas da imprensa, literatura e do ensino, tanto por parte dos alunos, como dos professores
O novo Acordo Ortográfico está para chegar, só ainda não se sabe quando. Mas, segundo a Agência Lusa, já foi anunciada a intenção do Governo português de fazer aplicar o Acordo em Portugal ainda este ano.
Esta recente intenção do Executivo levou os autores do Manifesto em Defesa da Língua Portuguesa Contra o Acordo Ortográfico a manifestarem-se, considerando o acordo “gravíssimo” e contraditório.
Isto porque, de acordo com o comunicado assinado pelo primeiro subscritor do manifesto, Vasco Graça Moura, estava previsto ter-se estabelecido um prazo de seis anos para que o novo acordo fosse implementado.
O comunicado refere, ainda, que a petição Manifesto em Defesa da Língua Portuguesa Contra o Acordo Ortográfico já recolheu mais de 100 mil assinaturas e que continua a aguardar agendamento para ser apreciado em plenário da Assembleia da República, desde 2008.
Este acordo vai interferir, principalmente, com três áreas: ensino, imprensa e literatura.
De acordo com a professora de português da Universidade dos Açores, Helena Montenegro, “num primeiro momento haverá, sem dúvida, muita hesitação, tanto por parte dos professores, como por parte dos alunos. Isto, porque estamos habituados a escrever as palavras de uma maneira e elas vão agora surgir de outra maneira.”
Para a professora, “o importante é que a implementação do acordo no ensino seja bem feita, bem estruturada com medidas oportunas, a nível de manuais e a nível de toda a documentação oficial”.
“É todo um processo que não pode ser feito de um dia para o outro”, salientou a docente
De acordo com Helena Montenegro, apenas os jovens que iniciaram o ensino primário é que vão estar em melhor situação, porque aquilo que vão aprender, será tudo novo. Assim sendo, as dúvidas só vão atormentar os actuais estudantes e a restante comunidade escolarizada.
Segundo o presidente da Associação Portuguesa de Imprensa, João Palmeiro, este novo acordo ortográfico vai afectar muito pouco em termos de custos, porque todas as empresas que editam jornais e revistas têm programas informáticos que são facilmente adaptáveis, podendo incluir dicionários com o novo acordo ortográfico.
“A questão é a de se tomar uma decisão política, e nas redacções se impor e colocar, imediatamente, à disposição, os novos dicionários ou não”, afirmou João Palmeiro.
O presidente da API adiantou que ainda não chegaram a nenhuma recomendação.
Quanto à literatura, o Açoriano Oriental contactou a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) e, segundo o gabinete de comunicação institucional da associação, “a posição da APEL é a de cooperar na respectiva implementação, na medida das suas responsabilidades e competências”.
Mas a APEL tem manifestado que considera de grande relevância “a definição do calendário e procedimentos de adopção no ensino”, assim como “a definição dos apoios que serão concedidos à edição, nomeadamente no que se refere à exportação para países da lusofonia, nos quais o acordo ainda não foi ratificado”.
O manifesto já angariou 100 mil assinaturas
O Manifesto em Defesa da Língua Portuguesa Contra o Acordo Ortográfico está disponível, desde o dia 2 de Maio de 2008, na Internet, altura em que o manifesto começou a ganhar assinaturas.
No dia 15 de Maio do mesmo ano, já tinham sido recolhidas 33 mil assinaturas. Mas, actualmente, o Manifesto já angariou 100 mil assinaturas.
O Manifesto indica que a reforma do acordo tem “inúmeras imprecisões, erros e ambiguidades”, qualificando, assim, esta reforma de “mal concebida” e “desnecessária”.
O Acordo Ortográfico, que visa unificar a escrita do português, foi alcançado em finais de 1990 e deveria ter entrado em vigor em 1994, mas apenas em três Estados membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe – o Acordo foi aprovado.
Teresa Franco/Olimpia Granada (in AOriental)