Novo presidente da SATA admite que reestruturação da empresa vai “doer”

O novo presidente do Conselho de Administração da SATA indigitado, Luís Rodrigues, admitiu hoje, numa audição parlamentar na cidade da Horta, nos Açores, que as medidas de reestruturação da empresa vão “doer”, mas não esclareceu a quem.

“A empresa tem uma série de problemas estruturais graves. O seu modelo de negócios não é sustentável”, reconheceu o novo administrador, ouvido pelos deputados da Comissão de Economia da Assembleia Regional, adiantando que, perante este cenário, são necessárias “medidas estruturais marcantes que, além de doer, vão demorar tempo”.

Quando questionado pelos deputados, Luís Rodrigues escusou-se a dizer se se referia aos trabalhadores do Grupo SATA ou eventualmente aos quadros intermédios da empresa, sendo certo que o Governo Regional já tinha anunciado que é preciso reduzir os custos com pessoal para apenas 18% do volume total de faturação da empresa.

O novo administrador falou também das contas da companhia aérea açoriana (que tem apresentado sucessivos resultados negativos), para dizer que é possível “equilibrar” os números, com base no crescimento do turismo, no aumento do poder de compra da classe média e no mercado da diáspora.

Luís Rodrigues, que já foi administrador da TAP, lembrou que só assumirá as funções de presidente do Grupo SATA em janeiro de 2020, mas que, até ao verão do próximo ano, terá de se deslocar frequentemente a Lisboa, devido a compromissos académicos.

O novo presidente da SATA indigitado revelou também que a única imposição que colocou ao Governo, para aceitar o cargo, foi a de ter “carta branca” para escolher os restantes membros do Conselho de Administração, escusando-se, por outro lado, a revelar qual o vencimento que irá auferir nestas novas funções.

Os jornalistas contavam também poder interrogar o novo presidente da SATA, mas, à saída da reunião, Luís Rodrigues disse que só falava à comunicação social depois de tomar posse.

Os partidos da oposição que participaram nesta audição não esconderam, no final, o seu desagrado por o novo presidente indigitado não ter respondido a muitas das questões levantadas pelos deputados.

Vasco Viveiros, do PSD, admitiu mesmo estar “desapontado”, porque esperava que Luís Rodrigues tivesse, nesta altura, “um melhor conhecimento dos problemas da empresa” e, mais do que isso, soluções concretas para implementar.

Também Paulo Estêvão, do PPM, esperava ouvir mais pormenores sobre a reestruturação da empresa e não apenas “respostas vagas” como aquelas que obteve de Luís Rodrigues: “eu coloquei um conjunto variado de questões, mas o senhor não me respondeu!”.

A deputada independente Graça Silveira entendeu que a audição a Luís Rodrigues deixou muitas dúvidas aos deputados, sobretudo quando disse que o processo de reestruturação iria “doer”, sem esclarecer o que pretendia dizer com isso.

Pelo Bloco de Esquerda, António Lima disse esperar que não sejam os trabalhadores da SATA os principais visados pelas declarações do novo presidente da empresa, recordando que os maus resultados financeiros “são culpa da má gestão” da companhia e não do seu quadro de pessoal.

Por seu lado, o socialista Carlos Silva considerou que a oposição não tem razões para criticar, recordando que Luís Rodrigues respondeu, durante uma hora e meia de audição, a todas as perguntas colocadas pelos deputados.

“Essa crítica não coincide com o que se passou lá dentro”, afirmou.

O novo administrador da SATA vai substituir no cargo António Luís Teixeira, que apresentou uma plano de reestruturação financeira da companhia aérea, que não terá sido aceite pelo Governo Regional, situação que terá originado a sua demissão.

De acordo com o relatório de contas do primeiro semestre de 2019, o Grupo SATA está a atravessar graves dificuldades económicas, registando prejuízos de 26,9 milhões de euros na SATA Internacional e de 6,6 milhões na SATA Air Açores, em apenas seis meses.

 

 

Lusa

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