Há muitos anos que o perfil social do doente de cancro oral está traçado: homem, entre os 50 a 60 anos, fumador e com hábitos alcoólicos por vezes muito marcados. No entanto, nos últimos anos, os médicos dentistas que trabalham no IPO de Lisboa começaram a deparar-se com um novo padrão, “com uma prevalência crescente”, revelou Daniel de Sousa, responsável pelo Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do IPO de Lisboa.
“Existe uma nova realidade, que são doentes mais jovens, na casa dos 30 anos, com cancro oral, que corresponde a situações relacionadas com infeção da mucosa oral pelo Vírus do Papiloma Humano (HPV)”, contou à agência Lusa o cirurgião do IPO de Lisboa.
O professor universitário explicou que o fenómeno se deve a “uma alteração dos hábitos sexuais desta população”, que tem mais parceiros sexuais. É que a transmissão de doenças é feita através de sexo oral.
Apesar de serem “cancros orais com uma menor agressividade” e que “respondem melhor à terapêutica”, Daniel Sousa defendeu a necessidade de algumas medidas preventivas.
Para o cirurgião do IPO de Lisboa, é preciso alertar a população para o risco de se ter múltiplos parceiros. A vacinação em relação ao vírus HPV de maior risco é outra das sugestões do especialista, que alerta, no entanto, para o facto de a eficácia da vacina ainda não estar cientificamente comprovada.
Mas, para Daniel de Sousa, o mais urgente é “a criação de uma rede de cuidados primários que englobe médicos dentistas” para facilitar uma deteção precoce de novos casos.
Em Portugal não existem ainda estatísticas sobre este tipo específico de cancro oral, mas o responsável lembra que “a nível da informação médica internacional esta é uma realidade que começa a ter muito significado”.
A maioria dos casos de cancros orais em Portugal continua a ser descoberta na população mais velha. Todos os anos são detetados 1500 novos casos: 1200 em homens e 300 em mulheres.
Aquele responsável do IPO de Lisboa lembra que o cancro oral “ocupa o 5.º lugar” na prevalência a nível nacional.
O cancro do pulmão é a principal causa de morte por cancro nos homens portugueses, enquanto nas mulheres é o tumor do intestino. Em termos de aparecimento de novos casos, lideram os tumores da próstata e da mama.
Segundo dados da Liga Portuguesa Contra o Cancro, a propósito do Dia Mundial Contra o Cancro, que se assinala hoje, só no ano passado o cancro matou cerca de 30 mil pessoas em Portugal, representando um aumento de 20 por cento relativamente a 2009.