Início precoce da vida sexual, características do agregado familiar e insucesso/abandono escolar são alguns dos factores que explicam os números da gravidez nas adolescentes.
Os Açores são a região do País com maior taxa de gravidez na adolescência. Em 2009, e segundo dados avançados pela Direcção Regional de Saúde, citando números do Instituto Nacional de Estatística, no Hospital de Angra do Heroísmo, Terceira, registaram-se 615 partos do quais 27 de mães adolescentes. No Hospital da Horta, Faial, houve 276 partos, dos quais 12 foram de mães adolescentes e, finalmente, no Hospital de Ponta Delgada, S. Miguel, verificaram-se 1.814 partos, dos quais 75 se referem a mães com menos de 18 anos de idade. “A percentagem de mães adolescentes está entre os 4,13% e os 4,39%. A maior parte dos casos refere-se a jovens de 17 e 18 anos.”
Segundo os responsáveis pela Direcção Regional de Saúde e a gestora do Programa Regional de Saúde Materna e Planeamento Familiar importa analisar o conceito de “adolescência”. “Segundo a Organização Mundial de Saúde, a adolescência é o período de vida do indivíduo que decorre entre os 10 e os 19 anos, dividido em ‘pré-adolescência’ – dos 10 aos 14 anos – e ‘adolescência propriamente dita’ – dos 15 aos 19. Além de ser uma longa fase da vida, engloba muitas idades e diferentes estádios de desenvolvimento psíquico, intelectual e físico.” Assim, prosseguem, “quando surgem notícias acerca das grávidas adolescentes estas referem-se, principalmente, ao grupo dos 17, 18 e 19 anos”.
De acordo com a informação avançada a este jornal, “o elevado número de grávidas adolescentes nos Açores deve-se a múltiplos factores já devidamente identificados e que constam do relatório final do respectivo estudo ‘Gravidez e Maternidade na Adolescência nos Açores’. O estudo foi realizado a nível regional e, resumidamente, concluiu que se trata de um problema multifactorial, englobando factores biológicos, sociais e psicológicos semelhantes aos que têm vindo a ser identificados em estudos semelhantes realizados noutros locais/países”.
De entre os modelos preditivos, serão de referir o início precoce da vida sexual; as características do agregado familiar; o insucesso/abandono escolar; e o facto de o companheiro já estar profissionalmente activo e ter algum rendimento.
O contexto individual de cada adolescente é de grande importância – a sua competência intelectual, a sua percepção de privação de afecto e de rejeição e a sua dramatização da existência. “Entrando em campos mais empíricos, torna-se necessário referir a existência de uma ‘sub-cultura’, frequente em algumas comunidades, onde a maternidade precoce é muito apreciada e, por vezes, até incentivada”, referem. “Acrescente-se que, pela legislação portuguesa, o casamento é permitido a todos os cidadãos com idade igual ou superior a 16 anos.
E falando em comportamentos, também será interessante referir que muitas adolescentes (mesmo depois de terem um ensino adequado) rejeitam os métodos contraceptivos (principalmente os anticonceptivos orais) em nome de uma pseudo ‘vida saudável’ sem ‘produtos químicos que fazem mal ao corpo'”.
Características sócio-económicas
A caracterização sócio-económica das grávidas adolescentes é sempre idêntica por todo o mundo. Tratam-se de jovens provenientes de agregados compostos por elementos da família nuclear e por elementos da família alargada, o que se relaciona com uma menor supervisão parental aos adolescentes. O nível sócio-económico destes agregados é, frequentemente, baixo. O companheiro, muitas vezes mais velho, tem poucas habilitações literárias mas está inserido no mercado de trabalho e tem uma remuneração, o que se torna num factor aliciante para a gravidez em muitas adolescentes.
ISABEL ALVES COELHO In Expresso das Nove