O empréstimo do FMI a Portugal não está em risco, apesar do seu director-geral Dominique Strauss-Kahn ter sido detido, este fim-de-semana em Nova por alegada agressão sexual e tentativa de violação a uma empregada de um hotel. A garantia foi ontem dada pela próprio FMI, cuja directora de relações públicas, Caroline Atkinson, afirmou em comunicado que a instituição vai continuar "operacional" e em "pleno funcionamento" apesar do sucedido.
“O FMI não é algo que se rege por uma única cabeça. O Fundo tem bastante capacidade para resistir a isto”, disse à Associated Press David Buik, analista da BGC Partners.
O FMI adiantou ainda que o seu conselho de administração efectuou ontem mesmo “uma reunião informal” para acompanhar o caso, sendo o “cargo de director-geral interino assumido pelo director-geral adjunto, John Lipsky”. Além disso, Nemat Shafik, directora-geral adjunta que supervisiona a actividade do Fundo em vários países europeus, vai tomar parte na reunião de hoje dos ministros das Finanças da zona euro sobre a ajuda a Portugal, sendo esperado pelos analistas que a situação financeira grega também seja discutida (em cima da mesa poderá estar um segundo resgate). “É impensável que, só porque o líder do FMI enfrenta problemas pessoais, a Grécia possa ser deixada sem apoio. Isto pode afectar um pouco o ‘timing’, mas acreditamos que todo o caso não terá impacto na obtenção de um novo pacote de ajuda ao país”, disse em nota de análise Marco Valli, o economista-chefe para a zona euro do UniCredit.
Demissão inevitável
Strauss-Kahn “nega todas as acusações” contra si e irá declarar-se “inocente”, afirmou ontem o seu advogado, Bejamin Brafman. Mas independentemente do desfecho do processo agora em curso, os especialistas são unânimes em considerar que este político não poderá continuar à frente do FMI após este escândalo. A grande incógnita é a identidade do seu sucessor, uma vez que Lipsky anunciou na quinta-feira passada que irá deixar o seu cargo. E parece cada vez mais claro que o novo líder do FMI irá assumir uma atitude mais dura para com a Europa, uma vez que países como a China, Índia e o Brasil estão a exercer cada vez mais pressão para aumentar a sua influência dentro do FMI.
“Strauss-Kahn empenhou-se muito na integração europeia. Mas o mais provável é que o seu sucessor não seja um europeu, e que queira reorientar as prioridades do FMI para longe do empenho massivo que o Fundo tem agora para com a Europa”, afirma Jean Pisani-Ferry, director do Instituto Económico Bruegel.
in sapo/económico