No dia em que se assinala o Dia Internacional da Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, a Associação dos Imigrantes nos Açores (AIPA) convidou a comunidade micaelense a discutir “O perigo da legitimação do discurso xenófobo”, um debate “que se impõe em qualquer sociedade plural”, e onde Paulo Mendes, Presidente da AIPA, alertou para a necessidade do tema ser discutido também na Região, não obstante de ser um fenómeno na sociedade portuguesa e açoriana de proporção pouco expressiva fomentar a discussão sobre um dos temas centrais na Europa que é o processo de integração dos migrantes, a crise dos refugiados e a legitimação de um discurso xenófobo que a médio e a longo prazo poderá ter um forte impacto na construção e afirmação de um modelo de sociedade inclusivo.
“Nunca tivemos tão perto da divisão entre nós e o outro ”, disse Paulo Mendes, referindo-se a todo o tipo de discriminação, alertando para a necessidade de a comunidade se “afastar da narrativa xenófoba, promovendo um discurso esclarecedor, claro e racional sobre estas questões, não devendo nunca compactuar com o silêncio”, referindo que assim é mais fácil “derrubar muros”.
Também Francisco Fernandes, Vice-presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, alertou para os riscos do discurso intolerante, alertando para o fenómeno emergente da política do populismo, e para os seus perigos. ”A obediência às maiorias impede que se sirvam as minorias”, disse, deixando contudo uma mensagem de esperança, focada na força da agregação. “É pelo fenómeno da agregação em comunidade que podemos vencer e lutar contra as questões discriminatórias de todas as ordens”, defendeu.
Relembrando que residem no arquipélago 4.000 imigrantes oriundos de 80 países, bem como a “significativa diáspora açoriana que colhe e beneficia de novas práticas e costumes culturais” nas sociedades de acolhimento, Paulo Teves, Diretor Regional das Comunidades, salientou o papel do Governo Regional no desenvolvimento de um conjunto de ações transversais no sentido de contribuir para a “integração eficaz” de todos os que escolheram o arquipélago “como espaço ideal para concretizarem os seus propósitos de vida familiar e profissional”, anunciando, nesse sentido, a realização de mais cursos de Língua Portuguesa para estrangeiros residentes nos Açores, considerando que este é “um fator essencial para a integração socioprofissional”. “Jamais podemos ignorar que a diversidade cultural faz parte do nosso quotidiano”, frisou.
Pedro Neto, director da Amnistia Internacional em Portugal, destacou a situação privilegiada do país em relação a outras realidades, mas alertou para a rapidez com que estas situação se alteram, dando o exemplo da Holanda, que ainda a semana passada estava dividida entre o discurso da “extrema-direita e da velha direita” (citando o DN), relembrando frases de figuras publicas que bem recentemente proferidas instam ao racismo através do medo.
O responsável desta organização não governamental, defensora dos direitos humanos, defende que acções geram acções, sendo importante que cada individuo se proponha fazer algo, e que todas as acções juntas façam a diferença.
Discutido foi também o papel atual da Comunicação Social, como agente rigoroso e isento na transmissão da comunicação, numa altura em que a área de expansão informativa e de contra-informação é gigante, fértil a um discurso pouco rigoroso, sem controlo nem regras que se propaga através das redes sociais, instando ao ódio, à xenofobia e a ideias pré-concebidas pouco esclarecidas.
No debate moderado por Cristina Oliveira, foram comentadores convidados Luís Andrade – Docente na Universidade dos Açores e Osvaldo Cabral – Diretor do Jornal Diário dos Açores.
No Dia Internacional da Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, e em que também se celebra o Dia Mundial da Poesia, fica a mensagem do debate :“para que o mal triunfe basta que os bons não façam nada”.
SM/ Açores 24Horas
