Quatro em cada cinco açorianos ficaram em casa no dia de eleger os 21 deputados que, nos próximos cinco anos, farão por representar Portugal no colosso europeu. Em média, é isso que se pode apreciar nos resultados e contagens do sufrágio do passado domingo, onde a abstenção ultrapassou os 80% no arquipélago, superando em muito o já aberrante valor nacional. Em média, também se pode concluir que quatro em cada cinco açorianos se estão a marimbar para eleger eurodeputados, se estão a marimbar para os Açores ou se estão mesmo a marimbar para Portugal, no âmbito do colosso europeu. E isto, num inédito alinhar de nomes e personalidades – uns mais notáveis que outros -, em que os dois candidatos indicados pelas maiores forças políticas na Região tinham a eleição garantida. E em lugar de destaque nas listas do PS – que venceu as eleições – e da coligação “Aliança Portugal” – que as perdeu -, respetivamente.
Nos dias subsequentes à eleição – para quem não sabe, foi o domingo, dia 25… – dos referidos eurodeputados, os comentadores e analistas desdobram-se em razões e contradições para explicar uma vitória do PS…que – segundo alguns – também perdeu as eleições, ou a esperada derrota da coligação que governa o país…que não perdeu assim tanto – segundo outros -. Ou mesmo segundo os mesmos. Uma “vitória de Pirro” passou, assim, a ser uma expressão usual na lusa pátria. Afinal quem nunca ganhou com perdas…no salário ou nos abonos, por exemplo?
A minha questão é simples e amplamente local, focada numa Região onde as tropas do poder se arregimentam a cada eleição, permitindo maiorias e vitórias sucessivas, às quais se sucederão a paga do respetivo favor. Pois nem assim. Nem assim se assistiu ao grito redundante de revolta dos açorianos face a Lisboa, ao “cartão amarelo” pedido pela demagogia habitual de confundir as pessoas na hora de votar, à punição exemplar do governo centralista que prejudica a Região como nunca ninguém fizera antes. Pois, nem assim…
Na básica interpretação, pessoal está claro, que tenho do exercer da abstenção, situo o ato nos antípodas do direito democrático de votar. Em média, posso achar que o abstencionista ficou em casa, desgostoso e revoltado com os políticos e a situação nacional, lavrando assim o seu silencioso protesto. Mas em média também posso achar que o abstencionista fez uma noitada e acordou mal disposto e com olheiras, ou seja sem a mínima vontade de exercer o seu dever cívico, um dos poucos que lhe restam. Neste caso, o abstencionista foi um preguiçoso cívico. E ninguém lhe retira o rótulo Por mais que barafuste, resmungue e destile ódios ou emoções. Porque, em média, o abstencionista não pôs lá os pés. Simplesmente porque não quis…
Miguel Sousa Azevedo, in http://portodaspipas.blogs.sapo.pt/