ONG denuncia desmembram​ento ilegal de tubarão azul nos Açores

A coordenadora da organização Sharkproject International nos Açores denunciou hoje que há pescadores espanhóis a desmembrarem tubarão azul no arquipélago, antes de chegar a terra, contrariando uma diretiva europeia, o que o Governo Regional nega.
“A nova lei diz agora que não é possível remover as barbatanas aos tubarões, têm de ser descarregados com as barbatanas e com a cabeça, ou seja, o animal completo, mas a 5 de julho voltou a acontecer na Horta e garanto-lhe que este barco não se importou com a lei”, denunciou Friederike Kremer.
Esta Organização Não Governamental (ONG) internacional tem como objetivo proteger os tubarões enquanto “predadores mais importantes do ecossistema” e atua com organizações de países de todo o mundo.
Friederike Kremer assegura não estar contra os pescadores açorianos, alegando que estes respeitam a pesca sustentável ao contrário de barcos estrangeiros, como as embarcações espanholas, qeu diz serem os grandes responsáveis pela delapidação do tubarão azul nos mares dos Açores.
“De momento contamos aproximadamente 5 mil toneladas de tubarão azul que é descarregado todas as semanas somente na Horta. Isto é de loucos, estamos a falar de 100 mil toneladas de tubarão azul descarregados por ano somente na Horta, todas as semanas existem barcos por lá, às vezes os barcos espanhóis estão lá todos os dias, em abril foi de loucos”, disse.
A responsável pela Sharkproject nos Açores diz que apesar de ser uma atividade legal, a pesca do tubarão azul (ou tintureiras) destrói o ecossistema.
“Nós já temos os sinais de que o ecossistema à volta dos Açores está a degradar-se, os tubarões azuis já não existem no mar de Santa Maria, por exemplo, já não há nada, é inacreditável”, afirmou.
A coordenadora do projeto chega hoje aos Açores para tentar sensibilizar a população para a defesa do tubarão azul na Região, o único local da Europa onde ainda é possível mergulhar com a espécie e lamenta que este esteja a desaparecer do mar açoriano para ser vendido por 0,30 cêntimos o quilo. Isto quando o mergulho dá muito mais dinheiro e teria um efeito multiplicador na economia local, defende.
“É possível ganhar muito mais dinheiro com os cinco mil mergulhadores que vêm aos Açores, todos fazem pelo menos dois mergulhos com tubarões por 300 euros. Só para os centros de mergulho são 1,5 milhões de euros, isto sem contar com os voos, alojamento, aluguer de carro, ‘whalewatching’ [observação de baleias], entradas em museus ou idas a restaurantes, ou seja, representam dez vezes mais para a economia local”, assegura Friederike kremer.
 O secretário regional dos Recursos Naturais, Luís Neto Viveiros, assegurou à agência Lusa que o Governo dos Açores está atento à captura de tubarões azuis nos Açores, que a espécie não está em perigo de extinção, que foram recentemente aprovadas um conjunto de normas que protegem os tubarões em todo o mar europeu e que se os navios espanhóis agirem contra a lei não vão passar impunes.
“Nós estamos atentos e estamos tranquilos porque toda a informação de que dispomos é que de facto não há nenhum perigo de extinção dessas espécies. Para além disso, há uma regulamentação europeia recente, que foi publicada no dia 02 deste mês e que entrou em vigor passada uma semana. Portanto, muito recentemente. Estamos sempre em absoluta consonância com a Marinha e através da Inspeção Regional das Pescas temos todas as ferramentas acionadas que permitam evitar situações dessas e garantir a sobrevivência da espécie “, disse.
Numa nota entretanto divulgada, o Governo dos Açores esclareceu que “o tubarão azul descarregado recentemente no porto da Horta foi pescado por uma embarcação espanhola numa altura em que ainda não estava em vigor a diretiva comunitária que impede o corte a bordo de barbatanas desta espécie, cuja captura continua autorizada”.
O Governo dos Açores garante ainda, num esclarecimento enviado à Lusa, que as quantidades de tubarão azul descarregado na Horta referidas pela ONG são “incorretas”: “Anualmente são descarregadas cerca de 2.800 toneladas desta espécie nos portos da Região”, lê-se na nota, que sublinha ainda que “as capturas realizadas pela frota comunitária com autorização para operar nos Açores ocorrem, na sua maioria [cerca de 90%], fora das águas açorianas”.

 

 

Lusa

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