A Ordem dos Médicos considerou hoje que a proposta de reestruturação do Serviço Regional de Saúde dos Açores revela “abandono de interesse por uma estrutura mínima de saúde pública”, algo único em “países evoluídos civilizacionalmente”.
O Conselho Médico da Região Autónoma dos Açores da Ordem dos Médicos (OM), “em consonância com o Conselho Nacional Executivo”, divulgou hoje um comunicado em que faz uma apreciação da proposta de reestruturação do Serviço Regional de Saúde que o governo açoriano colocou em debate público.
Ressalvando que é indiscutível a necessidade de reestruturar o setor nos Açores, que tem tido um “crescimento significativo de gastos”, e que, “no geral”, considera “bem-vindas as propostas de racionalização e otimização de recursos” expressas, por exemplo, na melhoria de meios de comunicação entre médicos, na “eficiente referenciação de doentes”, na avaliação de qualidade dos serviços ou no recurso a novas tecnologias e sistemas de administração modernos, a Ordem faz diversas críticas às medidas previstas no documento.
“É evidente o abandono de interesse por uma estrutura mínima de saúde pública, situação única, pensamos, em países evoluídos civilizacionalmente, que irá redundar em graves prejuízos para a saúde dos Açores e dos açorianos”, lê-se no comunicado.
A OM aponta que a forma de exercício da enfermagem de família a afasta dos cuidados primários, diz que não percebe a criação de mais um nível de cuidados e critica as medidas que visam “um processo de centralização e otimização de recursos”.
Sobre estas últimas, diz que, “lamentavelmente, muitas das propostas são pouco refletidas ou mesmo erradas” porque “uma boa articulação e uma complementaridade de trabalho técnico não obriga automaticamente a juntar pessoas e materiais num único hospital, podendo até ser contraproducente”.
Em relação aos centros de saúde, considera “desigual e dificilmente compreensível” o estabelecimento de níveis de atuação e de capacidade operacional. E, no caso dos hospitais, afirma que algumas propostas, que não especifica, “são atentatórias da boa qualidade de serviços e de uma assistência adequada à população”, sobretudo tendo em conta as especificidades do arquipélago.
Por outro lado, considera que “é saliente o desinteresse pela manutenção de responsabilidade médica e mesmo no reconhecimento da especialização como base de um trabalho válido e responsável”, referindo que há uma “sobrevalorização dos profissionais de gestão” nas direções das unidades de saúde de todas as ilhas.
A OM dá como exemplos deste afastamento dos médicos do “processo de responsabilização” o tratamento da toxicodependência (no que toca à psiquiatria) e a saúde mental, “área sobejamente complexa” para a qual “é proposta uma mudança radical, expressa em meia dúzia de imprecisas linhas”.
A OM indica ainda que “a formação médica é desconsiderada” e ficará até “comprometida” se algumas medidas avançarem.
Numa avaliação ao setor da Saúde nos Açores, a OM considera que “são conhecidos vários exemplos de investimentos irrefletidos e/ou desadequados” na região, como aconteceu recentemente com a informatização dos serviços “sem que o processo fosse publicamente transparente e as responsabilidade honestamente assumidas”. Por outro lado, “o próprio Governo [Regional] viu fracassados” os objetivos que tinha para esta área, afirma.
Lusa