Paraíso escondido em São Jorge cativa surfistas de todo o mundo

sao-jorge-surfA Fajã da Caldeira de Santo Cristo, situada na Ilha de São Jorge, Açores, é considerada um “santuário” do surf e bodyboard e um “paraíso escondido” que tem sido cada vez mais procurado por praticantes da modalidade.

 

Localizada na freguesia da Ribeira Seca, concelho da Calheta, esta é uma das 75 fajãs existentes na ilha caracterizada pela calma, tranquilidade, paz e sossego que proporcionam melhor qualidade de vida aos cerca de 15 habitantes.

 

Carlos Valério, mais conhecido por “preto”, é das Caldas da Rainha e vive na fajã há cerca de 6 anos sozinho.

 

A paixão pelo surf e pela paisagem “indescritível” deste local fez com que o surfista de 35 anos mudasse “completamente” o seu modo de vida e construísse uma casa de raiz na fajã sozinho e “com muito esforço”.

 

Apesar de se sentir bem, Carlos confessou à Lusa que não tem a vida que sonhou pelas dificuldades que surgem a nível profissional e pessoal, mas garante que o surf, os amigos e a qualidade de vida que aquele local lhe proporciona superam qualquer sentimento de arrependimento.

 

“Sou um homem de sete ofícios, faço de tudo um pouco para ir ganhando a vida, mas há meses muito difíceis de suportar”, afirmou o surfista, que tenta convencer os pais de 70 anos a mudarem-se para São Jorge, pois “o preço da saudade é sem dúvida o mais caro”.

 

Amaro Soares tem 37 anos, é um dos muitos apaixonados pela fajã da Caldeira de Santo Cristo e foi a sua família que acolheu o “preto”, como trata carinhosamente Carlos Valério.

Natural da Ilha de São Jorge, freguesia da Urzelina, onde reside, Amaro pratica bodyboard há quase 20 anos e considera ser este o “melhor lugar” para se praticar esta modalidade.

 

“Só vendo a fajã ao vivo e a cores e só a sentindo como nós a sentimos é que se tem a noção do paraíso que isto é”, afirmou o jovem bancário que inaugurou recentemente uma ‘surfhouse’ na fajã com capacidade para receber 12 hóspedes.

 

Casado e com dois filhos, o surfista desloca-se quase todos os fins-de-semana até à fajã, que frequenta desde a sua infância, para “respirar verdadeiro ar puro, fugir à rotina diária e aproveitar as ondas que são sempre de todos os tamanhos e feitios o ano inteiro”.

 

“A visita à fajã é imprescindível e uma passagem obrigatória pela ilha, pois é este o ex-líbris dos Açores”, declarou Amaro, que considera viver “por sorte no melhor lugar do mundo”.

 

A fajã já foi visitada por vários campeões do mundo do surf, como o ex-campeão mundial australiano Mick Fanning e o surfista português Tiago Pires, o qual foi acolhido por Amaro e prometeu voltar ao local que superou “todas as expectativas”.

 

A lagoa da fajã é o único local dos Açores onde se criam amêijoas, um petisco típico da Caldeira de Santo Cristo muito apreciado na região, sendo por isso classificada como Reserva Natural pelo Governo Regional dos Açores em 1984.

“Reza a história que um dia um imigrante do Canadá colocou amêijoas na lagoa e após alguns anos descobriu que se tinham reproduzido”, disse uma das residentes da fajã, admitindo não saber ao certo as razões pelas quais se reproduzem tão facilmente, apesar de apanhar amêijoas frequentemente.

 

Apenas cinco pessoas têm licença para apanhar amêijoas na lagoa da fajã, mas anualmente dezenas de pessoas apanham inúmeros quilos para consumo próprio ou para entregar na lota, que recebe apenas 10 por cento daquilo que se apanha, segundo alguns residentes.

 

A Aventour é a única empresa de turismo e aventura existente na Ilha de São Jorge que proporciona aos seus clientes chegar à fajã através de um trilho pedestre aberto exclusivamente para que “este paraíso mereça ser visto”, segundo o gerente Luís Bettencourt.

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