Idoso vai diariamente para o Areal de Santa Bárbara, na Ribeira Grande, extrair pedra de uma exploração não licenciada que destrói aos poucos a riqueza geológica e vulcanológica no local. Autoridades não se entendem.
O património geológico e vulcanológico que constitui a formação rochosa junto ao Areal de Santa Bárbara, na Ribeira Grande, está a ser delapidado devido à acção de uma pedreira clandestina que existe no local há décadas.
O dono da exploração, que opera sem licenciamento, chama-se António Alexandre, tem 70 anos, é reformado de uma empresa de construção e passa os dias a partir pedra de forma artesanal. Tal qual como faziam os cabouqueiros de antigamente. Todos os dias, entre as 08h00 e as 17h00 (com excepção de domingos e feriados), este idoso cumpre o mesmo ritual de sempre.
Primeiro parte lascas grandes na rocha, com a ajuda de ferros e martelos próprios, e a seguir corta-as em pedaços mais pequenos para a sua transformação em pedra de “joga”, destinada a assentar no chão de passeios. Por mês enche o equivalente a um camião, por dia enche até 15 a 20 baldes (de 20 litros) com a “joga”. Cada um destes baldes cheios sai barato – qualquer coisa como 5 euros – aos empreiteiros e “fregueses” que os vão buscar directamente ao areal. “O dinheiro que ganho aqui ajuda-me a ir vivendo, já desde o tempo de Salazar. Vou partindo a pedra devagarinho, porque parado esmoreço e o sangue não circula”, disse ao AO o idoso, que percorre diariamente a pé o percurso entre a Lomba e o areal, aufere uma pensão de 270 euros/mês e ainda dá sustento a dois filhos.
Por entre a rocha, acumulou dois montes de “joga” para vender. Pedra que vai sendo extraída aqui e acolá de buracos que se vão tornando cada vez mais fundos. Um deles já parece uma cratera, com cerca de dez metros de profundidade e seis de diâmetro. Foi António Alexandre que a escavou sozinho, com a ajuda de uma escada e ferramenta rudimentar. É um cabouqueiro à moda antiga que não tem, todavia, a noção de que a sua actividade comporta risco ambiental e descaracteriza o local, não só pela abertura de buracos, mas também por construir barracas para delapidar a pedra em dias de mau tempo.
O presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande lamenta a falta de intervenção das autoridades com competência no Domínio Público Marítimo (DPM) – Capitania do Porto de Ponta Delgada e Secretaria do Ambiente e do Mar – no sentido de porem fim à pedreira clandestina, que continua a funcionar por haver “complacência” devido à idade e pobreza do idoso. Ricardo Silva afirma que já reportou a ilegalidade a quem de direito e irá reportá-la outra vez, como forma de pressionar e sensibilizar as autoridades para o facto de que a situação “está a agudizar-se pela negativa”. E, para a sua resolução, diz não poder exorbitar as suas competências. Para o autarca, António Alexandre, se quer trabalhar, deve ser “deslocalizado” e prestar os seus serviços numa pedreira legalizada. *
*Leia a reportagem completa e saiba a posição das várias autoridades envolvidas neste caso na edição impressa do Açoriano Oriental de 19 de Março de 2009.
Paulo Faustino (in Aoriental)