Pescadores queixam-se da acção predadora do boto

Um barco de boca aberta regressam a meia tarde ao porto de pesca da Ribeira Quente e dos colegas que andam à pesca da lula não trazem boas notícias.

 

“Passámos agora mesmo por eles. Estão ali para os lados do Nordeste a dormir nos barcos à espera de melhor sorte”, relatava António Andrade. Um cenário de aparente “descanso” que dizem não ser por falta de vontade de andar na faina mas porque há “algo” que os impede de ter “melhor sorte” como afirma o mestre da embarcação “Salema”. Queixam-se, sobretudo, os pescadores que andam “à caça da lula” que a culpa de isso acontecer é de um peixe a que chamam boto.  Explicam os “lobos do mar” que esta espécie, ao que tudo indica, parente do golfinho, dizima o pescado sempre que este se aproxima dos barcos. “Já vim hoje do mar e trouxe duas lulas.Nem mais, nem menos: duas. E como eu há muitos mais pescadores”, denunciava, ao Açoriano Oriental Online, o mestre João Adelino. “Eu vejo as cabeças das lulas mas o resto o boto já levou”, lamenta.

 

João Adelino revela que a desmotivação chega a tomar conta dos “lobos do mar” diante de várias saídas fracassadas. É que, em alguns casos, “aquilo que se traz do mar nem dá para pagar o gasóleo”. “A gente anda cinco ou seis milhas e não os vemos. Mas quando se pára o barco e se deita o aparelho à água, cá estão eles. Eles acompanham os barcos e são aos milhares”.

 

 O pescador diz mesmo que se trata de um peixe “malino”. “Enquanto não mexermos com o aparelho ele não sai dali. Quando mexermos com o aparelho ele movimenta-se logo e nunca mais sai de junto do barco”, relata. Instados a apontar soluções para controlar as investidas do “boto”, os pescadores da Ribeira Quente abanam a cabeça… “É impossível dar cabo disso”, sustenta João Adelino. “Já bastante gente falou com o secretário a respeito disso e ele apenas responde que não há maneira de desviar aqueles animais dali”, acrescenta. João Peixoto recorda, a esse propósito, que já houve uma altura em que se tentou introduzir sonares com o objectivo de tentar afastar essa espécie das embarcações mas, ao que parece, a estratégia revelou-se ineficaz. “Aquilo até parecia que os chamava mais”, indica mestre Peixoto. “A melhor solução para aquilo era matá-los porque não fazem falta.Temos aí os golfinhos que não fazem mal às lulas mas aquilo faz e muito”, sugere João Adelino.

 

José Vieira que também anda nas lides da pesca no porto da Ribeira Quente reitera a posição dos colegas, e sustenta ainda que o boto não está a fazer mal só à lula. “Atrapalha as outras artes também. Aquilo é um peixe que faz mal a tudo: ao atum, ao peixe grado…” Como se não bastasse, acrescenta, “o peixe deixa cada vez menos dinheiro”. No interior da freguesia da Ribeira Quente há mesmo quem assuma que alguns profissionais estão já a viver com dificuldades devido a quebras consideráveis nos seus rendimentos”. Por tudo isso, desanimado, João Adelino, que até investiu numa nova embarcação para a pesca da lula, já pondera deixar a ilha. “Vejo aqui na Ribeira Quente muito barco e não vejo futuro. Quando o barco novo vier se calhar é para partir para a Graciosa. Já disse isso à minha família”.

 

 

 

 

 

Luisa Couto in AO)
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