O presidente do Instituto do Território (IT) admitiu hoje que Portugal, a não ser que “encontre petróleo”, vai demorar pelo menos 20 anos a pagar a dívida pública, mesmo que a economia “melhore” na próxima década.
O país tem uma dívida que corresponde a “120% de tudo o que produz num ano”, ou seja, do Produto Interno Bruto (PIB), o que “quer dizer que demoraremos 20 anos a pagar a nossa dívida se não tivermos défice em ano nenhum”, mas “nós ainda estamos a esforçar-nos para chegar a três por cento de défice”, disse Rogério Gomes.
“Isto quer dizer que as atuais condições, a menos que se encontre petróleo, manter-se-ão nos próximos 20 anos, mesmo que a economia melhore seriamente na próxima década”, o que “não será fácil acontecer”, admitiu Rogério Gomes, numa conferência, em Beja.
Por isso, “devemos todos desistir, emigrar ou ir para casa e chorar? Podemos sempre chorar, que alivia, mas não resolve o problema. E ir para os grandes centros urbanos também não ajuda muito, porque aí os problemas são maiores” atualmente, afirmou.
“O que ajuda é percebermos que temos de cuidar de nós mesmos e, por isso, vai haver um reforço sério das competências das comunidades intermunicipais”, que irão ter “um poder e uma responsabilidade muito maiores” em relação ao desenvolvimento económico das respetivas sub-regiões, disse.
Rogério Gomes falava na conferência “Áreas urbanas portuguesas 2014-2020: Que futuro preparar?”, a qual decorreu hoje em Beja, no âmbito do ciclo de conferências “Áreas Urbanas: Propostas para 2014-2020” que o IT está a promover pelo país.
Segundo Rogério Gomes, o próximo Quadro Comunitário de Apoio (QCA), para o período 2014-2020, terá como objetivo “obter, de facto, desenvolvimento económico” e “não terá nada a ver com os anteriores três”, porque, “tudo indica, será o último que a Comunidade Europeia dará a Portugal”.
Por isso, “exige de Portugal um cuidado que não foi necessário ter com os anteriores”, sobretudo com o terceiro, cujo “investimento a fundo perdido que se tem gozado traduziu-se, na prática, numa coisa estranha, ou seja, entrada de muito dinheiro que foi utilizado em projetos e, todavia, a economia do país está falida”.
“A entrada deste dinheiro não tem correspondido à criação de uma melhor economia, criadora de emprego e produtos transacionáveis e produtora de riqueza e de desenvolvimento”, lamentou.
Como tal, o Governo tomou duas decisões em relação ao próximo QCA, ou seja, vão terminar os subsídios a fundo perdido, mas “a haver alguns, irão para investimentos na área social”, e ser reforçadas as competências das comunidades intermunicipais, disse.
“O próximo QCA não está feito para mais investimento a fundo perdido, mas para tentar forçar o desenvolvimento económico da chamada economia dos bens transacionáveis, ou seja, financiar projetos de natureza empresarial” e através de “empréstimos sem juros ou com baixos juros e que têm que ser devolvidos”, explicou.
Por outro lado, o Estado decidiu criar “um quadro de reforço de competências das comunidades intermunicipais”, para poderem “fomentar” as economias das respetivas sub-regiões, disse o presidente do Instituto do Território.
Lusa