Numa intervenção em que começou logo por ‘avisar’ que “Portugal é mais do que a vida dos partidos e o ruído dos noticiários” e que uma das principais funções do chefe de Estado “consiste, precisamente, em ver mais além do que a política do dia a dia”, Cavaco Silva deixou apenas uma nota sobre a situação do país mesmo no final do discurso, frisando que não se pode “falhar”. “Não podemos falhar. Os custos seriam incalculáveis. Assumimos compromissos perante o exterior e honramo-nos de não faltar à palavra dada”, sublinhou, notando que “é Portugal inteiro que tem de se erguer nesta hora decisiva”, um tempo de sacrifícios, de grandes responsabilidades”. Insistindo que “é nestas alturas que se vê a alma de um povo”, Cavaco Silva repetiu: “não podemos falhar”. O resto da intervenção do chefe de Estado na sessão solene do 10 de Junho foi centrado na questão das assimetrias territoriais, apontando a frugalidade e o espírito de sacrifício do povo do interior como modelos a seguir “num tempo em que a fibra e a determinação dos portugueses estão a ser postas à prova”. “Está na hora de mudar de atitude, de desenvolver uma estratégia clara de revalorização do interior do País, incentivando e apoiando o espírito indomável daqueles que aqui vivem e trabalham”, afirmou, notando que a escolha de Castelo Branco para palco destas celebrações do dia 10 de Junho teve precisamente como objetivo colocar o interior do País no centro da “agenda nacional”. Falando perante o primeiro-ministro cessante, José Sócrates, e o futuro chefe do Governo, Pedro Passos Coelho, Cavaco Silva notou o “menosprezo dos poderes públicos pela realidade do interior”, que obrigou gerações inteiras a deixar as suas terras, tornando Portugal “um país desequilibrado, um território a duas velocidades”, com um interior com grandes potencialidades na agricultura, mas sem capital humano. Entretanto, continuou Cavaco Silva, os que ficaram no interior, “que resistem à austeridade da terra”, nem sempre dispõem das mesmas oportunidades, não têm o mesmo acesso aos serviços públicos de saúde e de ensino, não possuem as mesmas oportunidades de emprego, transformando assimetrias regionais em assimetrias sociais. Apesar de reconhecer que “o êxodo do interior constitui um fenómeno legítimo e natural”, o Presidente da República reconheceu que é “utópico supor que, por mero voluntarismo dos poderes públicos” se conseguirá um regresso em massa das populações ao interior do País. “Temos de ser realistas, pois as ilusões pagam-se caro”, salientou, defendendo que “com realismo” se deve perceber que o progressivo despovoamento do interior, além de criar situações de injustiça, faz perder potencialidades e ativos que, sobretudo na atual situação do País, não se podem desperdiçar.
O Presidente da República defendeu hoje que Portugal não pode falhar, pois os custos seria “incalculáveis”, sublinhando a importância de honrar os compromissos assumidos com o exterior.