Portugueses com falta de vitamina D por medo do cancro da pele

Uma excessiva protecção do sol pelo receio do cancro da pele, associada a hábitos longe da luz solar, podem resultar em carência de vitamina D e consequentes doenças, segundo um especialista que alerta para este “ignorado” problema de saúde pública.

José Manuel Tojal Monteiro é pediatra e há anos que estuda as consequências na saúde deste divórcio da população com o sol, nomeadamente a carência de vitamina D, vital para a manutenção do cálcio no sangue e uma boa qualidade dos ossos.

O especialista começa por lembrar que, além da saúde óssea, existem receptores para esta vitamina em outras células – como linfócitos, neurónios, células da mama, próstata, pâncreas, miocárdio e pulmões – pelo que a sua carência pode conduzir a deficiências nestes órgãos.

Neoplasias, diabetes, doenças imunológicas, doenças cardiovasculares, periondontais, inflamatórias intestinais, esquizofrenia, depressão e psoríase são algumas das doenças que José Manuel Tojal Monteiro enumera como consequências da falta de vitamina D.

O especialista lamenta que, apesar de ser um problema de saúde pública, as autoridades “não lhe atribuam a devida importância” e compreende que a população insista em manter o sol afastado, uma vez que estão provados os seus malefícios e responsabilidade no cancro da pele. Contudo, José Manuel Tojal Monteiro critica os extremos e defende um equilíbrio, recordando que, há algumas décadas, o sol não era considerado um inimigo e as tarefas, bem como as actividades de lazer, eram feitas debaixo da sua influênci.

 

O grande responsável por este medo do sol é o buraco do ozono, identificado em 1985 e que permite que as radiações ultravioletas atinjam a Terra. As principais consequências deste “buraco”, e da possibilidade de os ultravioletas atingirem a terra, são o cancro da pele, diminuição da resistência imunológica, perturbações respiratórias, entre outras. Tais efeitos levaram as autoridades de saúde a desenvolver várias iniciativas com vista à protecção solar, as quais têm sido acompanhadas por uma forte mensagem promocional de protectores solares.

O resultado destas acções tem-se traduzido em mudanças de horários na exposição solar e o quase constante recurso a filtros solares, principalmente nas crianças. Para José Manuel Tojal Monteiro, a esta protecção associam-se hábitos de vida afastados do sol: “As crianças já não brincam na rua, as famílias deixaram de passear no jardim e vagueiam por centros comerciais, além de trabalharem em recintos fechados”, disse, concluindo que mais de 90 por cento das 24 horas do dia são passadas longe do sol. Um escudo que dificulta a síntese de vitamina D, que só é possível com sol, seja na rua, na montanha ou na praia. Perante esta situação, o pediatra defende a administração de vitamina D durante toda a vida, e não apenas no primeiro ano, como é recomendado actualmente. José Manuel Tojal Monteiro defende a continuidade da protecção solar, embora preconize que, pelo menos durante dez minutos, as crianças usufruam do sol sem filtros, ainda que dentro dos horários recomendados. “Não é preciso escolher entre um cancro da pele e uma osteoporose”, disse, afirmando que a carência de vitamina D é “o preço a pagar pela ignorância e a não divulgação pelas autoridades de saúde pública da sua importância”.

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