O PPM/Açores, partido que integra o Governo Regional, criticou hoje a “ingerência” do bastonário da Ordem dos Médicos na autonomia do arquipélago, acusando Miguel Guimarães de “usurpar” as suas competências e de violar os estatutos daquela ordem.
“O PPM combaterá qualquer tentativa de ingerência, por parte do bastonário, no âmbito das competências dos órgãos de governo próprio da região autónoma dos Açores. A autonomia açoriana não aceita paternalismos e tutelas”, lê-se em comunicado de imprensa.
O PPM reagia assim às declarações do bastonário da Ordem dos Médicos, que após uma reunião com o presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, na segunda-feira, sublinhou a importância de potenciar o diálogo entre os clínicos e a administração do Hospital Divino Espírito Santo (HDES), em Ponta Delgada, na sequência de alegadas divergências.
“O senhor bastonário está a usurpar competências que não lhe cabem e a incumprir o estatuto da Ordem dos Médicos. Está refém de interesses particulares, que não coincidem com os interesses gerais dos doentes açorianos e da esmagadora maioria dos médicos açorianos”, acrescentaram os monárquicos, que integram o executivo açoriano em coligação com o PSD e o CDS.
O PPM acusou ainda Miguel Guimarães de violar “claramente” o artigo do estatuto da Ordem dos Médicos que estabelece que “a Ordem está impedida de exercer ou de participar em atividades de natureza sindical ou que se relacionem com a regulação das relações económicas ou profissionais dos seus membros”.
“É igualmente lamentável que o bastonário assuma, de forma acrítica, os posicionamentos de um reduzido núcleo de críticos, que têm como objetivo essencial manter as suas quintas no HDES, mesmo que isso signifique eternizar a falta de resposta adequada e atempada”, afirmou o partido que tem dois deputados no parlamento açoriano.
Questionado sobre as críticas do PPM, o bastonário da Ordem dos Médicos pediu aos partidos para “ajudarem a resolver os problemas” internos no Hospital de Ponta Delgada.
Miguel Guimarães realçou ainda que a Ordem dos Médicos é “verdadeiramente independente” e salientou que a sua legitimidade para se pronunciar sobre a situação daquela unidade de saúde é “total”.
“O bastonário da Ordem dos Médicos para vossa informação é eleito a nível nacional, tal como é eleito a nível nacional o Presidente da República. Portanto, é eleito no continente, nos Açores e na Madeira. Provavelmente, os líderes do PPM não sabem isso, mas era bom que soubessem”, afirmou em conferência de imprensa realizada em Ponta Delgada.
Na segunda-feira, o presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, referiu que o executivo “encara como positiva a auscultação da Ordem dos Médicos”, realçando que, “quando é possível resolver um problema no seu início, mais eficaz se torna a intervenção”.
Em 22 de julho, Bolieiro defendeu ser necessário “trabalhar em diálogo” para transformar os “desentendimentos de circunstância” entre a administração e os trabalhadores do Hospital de Ponta Delgada num “entendimento estrutural”.
Lusa