Professores, os nómadas do sistema

Lúcia vai fazer 260 quilómetros diariamente para dar aulas e gastar mais de metade do ordenado em viagens, mas há quem opte por mudar de casa e “levar a família às costas”, como uma professora primária colocada em Lisboa.
 

 

Lúcia Lopes, de 35 anos, e Mafalda Beltrão, de 38, são dois exemplos do que acontece a milhares de professores. No final de agosto ficaram a saber onde tinham sido colocadas e, em poucos dias, tiveram de se apresentar na escola nova, a centenas de quilómetros de casa. Professoras há mais de uma década, são “nómadas do sistema”.

Não se conhecem, mas ficaram perto uma da outra e longe das famílias: Lúcia fez uma viagem de 130 quilómetros, da Marinha Grande até à nova escola em Santo António dos Cavaleiros, enquanto Mafalda saiu de Viseu rumo ao centro de Lisboa.

Durante uma semana, Lúcia e Mafalda fizeram contas à vida para decidir o futuro da família durante os próximos quatro anos.

A 130 quilómetros de casa e da filha de sete meses, Lúcia passou várias noites a fazer contas com o marido até que decidiram que iria dormir na sua casa e fazer diariamente a viagem.

“Com uma filhota de sete meses, tenho agora que fazer o trajeto todos os dias. São 130 quilómetros (kms) cada viagem o que dá 260 quilómetros por dia. Ao final do mês serão 5.200 kms. Vai ficar muito dispendioso”, contou à Lusa Lúcia Lopes, que estima gastar 760 euros por mês só em gasolina e portagens numa viagem que lhe vai roubar três horas por dia.

A professora de Educação Visual e Educação Tecnológica ainda tem esperança de conseguir permutar com um professor com 22 horas letivas atribuídas que tenha sido colocado mais perto de sua casa, na Marinha Grande, ou mesmo na área de Leiria, Caldas Rainha e Pombal.

“Caso contrário, terei de aguentar na esperança que para o ano haja concurso de mobilidade interna”, disse a professora que, a partir de segunda-feira, terá de se levantar às cinco da manhã para estar na escola às oito.

“Lisboa passou a ser a minha prisão”, desabafou.

Também Mafalda Beltrão fez contas à vida, quando soube que tinha ficado numa escola primária no centro de Lisboa. Apesar de terem comprado uma casa em Viseu, a família Beltrão acabou por decidir que seria melhor mudarem-se para Lisboa. Mas, o facto de só terem conhecido a nova escola no final de agosto fez com que ainda não tenham tido tempo para tratar de tudo.

Este fim de semana será passado entre caixotes na sua casa em Viseu, já que Mafalda ainda não conseguiu trazer para Lisboa tudo o que precisa. Apesar de estarem inscritos em Viseu, os dois filhos já conseguiram transferência para escolas lisboetas mas o mais velho ainda não tem os livros.

“Ainda estamos em mudanças. Só consegui casa na semana passada, porque estas colocações vêm muito tardiamente”, lamentou Mafalda, que apesar da confusão que se instalou, mantém o espírito de quem já está habituada a estas andanças. Mafalda já deu aulas nas ilhas da Madeira, Açores e no Gerês.

“É preciso dedicação, organização e empenho para vir dar aulas”, sublinhou a professora da Marinha Grande.

 

 

Lusa

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