Quase uma centena de pescadores mortos no mar nos últimos 30 anos

pescaNos últimos 30 anos morreram no mar “cerca de 100 pescadores” da zona das Caxinas (Vila do Conde) e ainda Póvoa de Varzim, um número avançado à Agência Lusa pelo presidente da Associação Pró-Maior Segurança dos Homens do Mar (APMSHM).

Nesta zona piscatória, as histórias de quem perdeu familiares em naufrágios são muitas, mas os pescadores preferem calar-se, evitam entrevistas e recusam falar de um mar que lhes dá o sustento, mas que, muitas vezes, também lhes rouba a vida. O mestre José Festas andou “ao mar”, como gosta de dizer, cerca de 40 anos, mas deixou a profissão quando assumiu a liderança da APMSHM, que tem como objetivo zelar pela segurança dos marítimos, “evitando ou minimizando o número de mortes no mar”, disse. A embarcação de que é proprietário, está agora nas mãos do filho e, sempre que este vai trabalhar, José Festas “evita pensar no que lhe pode acontecer”.

 Ainda hoje se lembra que o pai, já falecido, lhe pedia para ter “muito cuidado” quando ia para o mar, palavras que, na altura, não entendia e achava exageradas, mas, hoje, “fazem todo o sentido”, lembrou o também armador. Mas quem visita esta zona piscatória, sobretudo as Caxinas, onde se concentra esta comunidade piscatória, vê a roupa preta espalhada pelos estendais, um sinal que ali, naquela casa, o mar já terá “ficado com um filho da terra”. O armador não encontra explicação para tantas mortes, mas reconhece que, muitas vezes, os pescadores “facilitam”, não acautelando a sua segurança. “Facilitamos porque precisamos de sobreviver”, frisou.

 

Nos últimos 30 anos, o mar “ficou com cerca de uma dezenas de pescadores”, lamentou o mestre Festas dizendo que é uma “dor maior não se poder velar os mortos”. Aliás, no cemitério das Caxinas há campas sem corpos, porque as famílias “precisam um lugar onde possam chorar os seus familiares que o mar nunca devolveu”, relatou ainda o armador. Também José da Silva Fortunato, 61 anos, conhece bem estas pessoas e a sua dor, uma vez que nasceu na Póvoa de Varzim e começou a ir ao mar “muito novo”. Amargurado e revoltado pela falta de condições em que os pescadores trabalham, João Fortunato sabe que “é mais importante ter o corpo que o lucro”, mas quando parte para o mar na sua embarcação, nunca pensa que poderá não voltar, se assim fosse, “nem conseguia sair de casa”.

 

Histórias como esta repetem-se, vezes sem conta, nesta comunidade que tende a desaparecer, porque os mais pequenos alimentam outros sonhos. Quem sabe, serem jogadores de futebol como Paulinho Santos ou Hélder Postiga, ambos nascidos nas Caxinas e também eles filhos de gentes do mar.

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