Em declarações à agência Lusa, Cristina Afonso explicou que o estudo, desenvolvido em ratinhos de laboratório, procurou demonstrar que “um animal infetado com Toxoplasma possui alterações de comportamento que favorecem a transmissão do parasita”.
A infeção por Toxoplasma, a Toxoplasmose, propaga-se através de roedores como os ratos (hospedeiros iniciais do parasita) e de gatos (hospedeiros definitivos). Destes últimos, o parasita pode ser transmitido a outros animais (galinhas, ovelhas, cabras, vacas, porcos…) por meio das fezes e, depois, aos humanos pela ingestão de carne crua ou mal cozinhada.
A equipa de cientistas portugueses verificou que os ratinhos que tinham sido infetados com Toxoplasma eram menos cautelosos do que os saudáveis e, por isso, eram presas mais fáceis para os seus predadores.
“Os animais [infetados] mexiam-se mais depressa, aceleravam mais quando começavam a mexer-se, a forma como organizavam o seu movimento foi alterada. Normalmente, um ratinho mexe-se em segmentos de movimento muito curtos, mexe-se um bocadinho, depois para, observa o seu ambiente. Nos animais infetados com o parasita, isto não acontecia, locomoviam-se durante períodos de tempo muito prolongados”, descreveu a bióloga.
Os investigadores observaram ainda que, nos roedores com alterações de comportamento, o parasita, que se aloja no cérebro e se mantém dormente na forma de cistos (quistos), distribui-se por um “circuito” de áreas do cérebro que “conversam umas com as outras” e não por uma única área.
Apesar de o estudo ter sido feito em laboratório, Cristina Afonso acredita que “a dinâmica da infeção seria semelhante” com ratinhos no seu habitat natural.
Sabendo que o Toxoplasma não atua por motivação, a equipa de cientistas pretende, descortinar, no próximo passo da investigação, como é que é feita a seleção do parasita nos roedores.
O estudo foi realizado ao abrigo do Programa Champalimaud em Neurociência.
Lusa