Um fenómeno essencial ao equilíbrio climático global, a mistura em profundidade de massas de água no Atlântico Norte, intensificou-se durante o Inverno 2007-2008 de forma «inesperada», indica um estudo esta quinta-feira divulgado.
O fenómeno, conhecido como «convecção oceânica profunda» foi observado por uma equipa internacional de cientistas a 1.800 metros de profundidade no Mar de Labrador (entre o Canadá e a Groenlândia) e a 1.000 metros no Mar de Irminger (entre a Groenlândia e a Islândia) em «níveis de intensidade que não eram atingidos desde 1994», de acordo com resultados de pesquisa publicados na secção online «Geoscience» da revista Nature.
A convecção oceânica profunda contribui para a redistribuição de calor entre as regiões polares e equatoriais, contribuindo para o equilíbrio climático uma vez que o calor transportado pelas águas dos oceanos é um dos principais factores de influência no clima da Terra.
Redistribuição de calor entre regiões polares e equatoriais contribui para equilíbrio climático
A Corrente do Golfo – que permite, por exemplo, que as costas da Irlanda sejam banhadas por águas temperadas e evita que o norte da Europa fique permanentemente coberto por gelo polar – é resultado e a manifestação mais conhecida da convecção oceânica profunda.
A cientista francesa Virginie Thierry, que participou no estudo internacional, diz num comunicado do instituto oceanográfico francês IFREMER que «esta reactivação é inesperada porque desde há vários anos a mistura da água quente com a fria estava a ser feita a profundidades notoriamente menores, que entre 2001 e 2007 oscilaram entre os 700 e os 1.100 metros, o que poderia ser considerado um sinal do aquecimento global».
Dados do IFREMER indicam que em finais dos anos 80 e no início dos anos 90 do século XX a convecção oceânica profunda ocorria a profundidades superiores a 2.000 no Mar de Labrador.
Mistura da água quente com a fria
O comunicado do instituto oceanográfico francês salienta ainda a importância da convecção oceânica profunda lembrando que é um processo fundamental para a absorção e armazenamento nos fundos oceânicos, «durante séculos», do dióxido de carbono atmosférico, um dos principais responsáveis pelo efeito de estufa.
Atribuindo a renovada intensidade do fenómeno a «temperaturas atmosféricas anormalmente frias no Atlântico norte durante o Inverno 2007-2008 e a condições favoráveis à formação de uma camada de gelo no Mar de Labrador», o IFREMER ressalva, no entanto, que «é mais que provável que a longo prazo a convecção profunda venha a diminuir se a tendência do aquecimento climático global se mantiver».
O estudo internacional foi realizado a partir de dados recolhidos por sensores em todos os oceanos do mundo que registam em contínuo a temperatura e a salinidade das águas desde a superfície até aos 2.000 metros de profundidade.
in IOL diario