Relações luso-americanas “reféns” de austeridade em Washington

A austeridade orçamental em Washington já se reflete nas relações luso-americanas, com o negociado corte na base aérea das Lajes e nas representações diplomáticas, cenário que deverá manter-se independentemente do resultado das presidenciais de novembro.

Francisco Semião, diretor da organização luso-americana NOPA, identifica a redução da presença norte-americana nas Lajes, negociada entre os dois países desde final de fevereiro, como grande questão em aberto na agenda bilateral, a par do encerramento do Consulado de Ponta Delgada e assuntos relacionados com vistos.

“Nos últimos dois anos, tem havido uma enorme viragem para medidas de austeridade, com cortes de despesa” do Estado norte-americano, disse à agência Lusa o responsável da NOPA e gestor hospitalar.

“Com os limites à despesa estabelecidos no último ano e milhares de milhões de cortes agendados para o início de 2013, é difícil imaginar que alguma parte do orçamento seja poupada aos cortes”, adiantou.

No final de agosto, a campanha do republicano Mitt Romney disse à Lusa que a decisão de redução nas Lajes seria invertida em caso de vitória em novembro contra o democrata Barack Obama, dado que a política é de manter a presença militar norte-americana no estrangeiro.

“Seria um grande revés para as nossas relações bilaterais com Portugal, um grande erro”, disse Adolfo Franco, porta-voz da campanha do ex-governador do Massachusetts.

Semião saúda a posição, mas diz ser difícil “imaginar como a redução não venha a acontecer, independentemente de quem ganhar”.

Segundo fontes diplomáticas ouvidas pela Lusa, as negociações em torno das Lajes, que vão determinar a dimensão da redução da presença, entraram num compasso de espera.

“Não houve pressão negativa, nenhuma insistência” da parte dos norte-americanos nas últimas semanas, disse fonte diplomática.

Fernando Rosa, presidente da associação luso-americana PALCUS, afirmou ter recebido do Departamento de Estado informação de que as negociações vão estar paradas “até passar o período eleitoral”.

“Depois disso, a Base, o Consulado [em Ponta Delgada] e outras questões serão resolvidas”, disse à Lusa, adiantando que os cortes abrangem outras bases norte-americanas.

“O que está a acontecer com a Base, nos Açores e no resto mundo, é reflexo das questões económicas, não são tanto militares. É importante reduzir o orçamento e eles optaram por reduzir nos Açores e Portugal”, adiantou Rosa.

O responsável da PALCUS, que tem estado envolvido num esforço de “pressão” juntamente com o governo dos Açores, adianta que a decisão “não está completamente tomada” e que “no fundo, as relações [luso-americanas] são excelentes”.

No final de fevereiro, o Departamento de Estado anunciou que a embaixada dos Estados Unidos em Lisboa e o consulado-geral em Ponta Delgada vão deixar de emitir vistos de imigração para portugueses, passando o processo a ser assegurado pela representação norte-americana em Paris.

O embaixador norte-americano, Allan Katz, afirmou então que a mudança afeta poucas pessoas, dado o baixo nível de emigração portuguesa para o país, resultando da “consolidação de uma série de serviços em todo o mundo simplesmente porque, como todos os governos”, os Estados Unidos estão a “tentar poupar algum dinheiro”.

Para o Governo português, a prioridade tem sido a manutenção de Portugal no Programa Visa Waiver, que permite estadias de até 90 dias, tendo em 2010 sido utilizado por “156.000 pessoas.

 

Lusa

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