Entre os peregrinos há homens com mais de 60 anos mas também muitos jovens, que fazem uma caminhada de oração e reflexão, cumprindo “um chamamento inexplicável”, onde “cada irmão tem a sua história”.
“A primeira vez que fui de romaria ainda era criança, em 1958, e depois alguma coisa me chamou e estou aqui sempre”, disse Manuel Pacheco, do ‘rancho’ de Santa Clara, Ponta Delgada, em declarações à Lusa, durante uma pausa na Ribeira Quente para um pequeno lanche matinal, antes de prosseguirem a caminhada até às Furnas.
Na Ribeira Quente tinham à sua espera irmãos que este ano, por razões de saúde, não puderam integrar a romaria e prestam auxilio no fornecimento de refeições e na assistência a ferimentos nos pés provocados pela caminhada, que chega aos 300 quilómetros no final da semana de romaria.
Manuel Pacheco admitiu que “o cansaço e, principalmente, os problemas nos pés”, são “as maiores dificuldades” do grupo que integra, mas assegurou que “ninguém pensa em desistir”.
“Não há nada que nos vença, mesmo com todo este cansaço”, afirmou, admitindo que chega a aconselhar alguns irmãos para que “se vão embora, por ver que não estão em condições de prosseguir a romaria”.
Mas, frisou Manuel Pacheco, “eles não vão, porque uns estão por promessa, outros por vontade de saber o porquê de estar numa romaria”.
“É uma força que vem de dentro e só Deus sabe porquê”, desabafou, sublinhando que “a espiritualidade sobrepõe-se a todos os problemas físicos”.
No total, este ano são 57 os ‘ranchos’ de romeiros que percorrem as estradas de S. Miguel, envolvendo mais de 2.500 homens trajados com xaile, lenço, saco para alimentos, bordão e terço.
Durante a semana em que percorrem a ilha, sempre com o mar pela esquerda, pernoitam em casas particulares e salões paroquiais, iniciando a caminhada todos dias antes do amanhecer.