Muita tinta tem rolado à conta da Associação Arrisca. O assunto tem sido alvo das mais despropositadas observações e – considero – carece de uma análise a frio. A associação Arrisca tem funcionado ao longo dos últimos anos na Rua dos Capas, em instalações manifestamente insuficientes para os seus cerca de 300 utentes. Destes, apenas uma minoria provoca desacatos cuja expressão máxima passa por “falar alto e fazer barulho”, confessou a Dra. Suzete Frias no programa Estação de Serviço. A esmagadora maioria está num processo de recuperação de uma “doença do sistema nervoso central”, de acordo com a mesma especialista.
Munidos do preconceito, os comerciantes do centro histórico de Ponta Delgada prontificaram-se a fazer barulho e a pressionar o atual presidente camarário José Manuel Bolieiro a contestar a decisão da mudança da Rua dos Capas para a Rua do Aljube. Esta mudança é de apenas uns escassos metros. Assim se viram dois aspetos fundamentais no comportamento de Bolieiro: 1) cede a pressões de grupos organizados e 2) defende a máxima “longe da vista, longe do coração”, uma vez que dos Capas para o Aljube a diferença é só esta: maior visibilidade. Além disso, o vice-presidente durante três anos e agora presidente parece não se preocupar nem apontar soluções para as situações deploráveis do Largo 2 de Março, do Campo de S. Francisco ou da Calheta, locais prediletos dos toxicodependentes que não recorrem aos serviços da Arrisca.
O candidato à Câmara de Ponta Delgada, José Contente, mediou – e bem – as negociações para uma nova localização da Arrisca: no terreno anexo aos Bombeiros de Ponta Delgada. Esta solução apresenta múltiplas vantagens: permanece o atendimento na cidade de Ponta Delgada (de onde originam a maior parte dos utentes), é prestado o serviço em espaço digno e contíguo aos bombeiros (que poderão prestar auxílio em caso de emergência), é um espaço recatado que protege a identidade dos utentes, existe a possibilidade de reabilitação com uma eventual experiência profissional e integração do corpo de bombeiros, é contributo financeiro para os bombeiros através da renda do espaço. A proximidade à Escola Secundária das Laranjeiras e ao Parque Século XXI é um não-problema, já que a entrada se faria pelo lado de S. Gonçalo e existem no local gradeamentos que não permitem esse acesso.
De lamentar foi o episódio da afixação de faixas “metadona aqui não” na Escola Secundária das Laranjeiras. Aqui, também, por vários motivos. É por demais sabido que naquela escola (e noutras) circulam drogas sem controlo; a metadona é uma terapia não um estupefaciente – a metadona é uma terapêutica para o que começa muitas vezes com um “charrinho” nas escolas. Uma infelicidade da qual nenhum de nós está livre.
É hoje público que esse movimento nas Laranjeiras foi incitado pela Juventude Social Democrata dos Açores, já que o presidente da AE da mesma escola veio denunciar a situação em comunicado.
José Contente é deputado à ALRA por S. Miguel e é também candidato à Câmara Municipal de Ponta Delgada. Identificou uma solução para a Arrisca e para o concelho e não hesitou em mediá-la (ainda que a isso não estivesse vinculado). Pena seja que quem comanda os destinos de Ponta Delgada apenas pretenda deitar abaixo a solução de José Contente, em vez de pensar em soluções para os munícipes do “Concelho Feliz”.
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