Foi escrito por um açoriano, de ascendência micaelense da Lomba da Maia, Anthony de Sá.
Aclamado pela crítica e nomeado para prémios no Canadá e em Portugal, o livro chamou a atenção da cantora Nelly Furtado, também ela natural da ilha de São Miguel e que comprou os direitos da obra para adaptar ao cinema.
É com entusiasmo que Anthony de Sá fala do romance “cru e sem rodeios, são boas palavras para descrevê-lo” – afirma o escritor -“porque acho que estou a expôr a verdade sobre os imigrantes e não estou a tapá-la. Não há vergonha no que escrevo“.
Sem vergonha, conta a história de Manuel, um açoriano que sai da Lomba da Maia para trabalhar na pesca do bacalhau – um homem que, sozinho, num pequeno barco se afasta do navio-mãe e foge até à costa canadiana. Aí, renasce e começa uma nova vida.
Anthony garante que escreve ficção, mas encontra a inspiração na vida do pai: “Manuel é baseado no meu pai – começou assim, mas, a sua caracterização mudou com a progressão do romance“.
O autor acrescenta: “mas tal como nas personagens do romance, o meu pai virou as costas a São Miguel. O meu pai sentiu que tinha de seguir em frente e, por isso, penso que, neste sentido, ele era muito diferente“.
Muitos deles perceberam que nunca íam concretizar os seus sonhos e o melhor que podiam fazer era passar esse sonho para os filhos.
A frustação aumenta com a dificuldade de integração na comunidade canadiana e Anthony lembra os desabafos do pai: “nós construímos as casas deles, tomamos conta dos filhos deles, mas, depois, temos de usar a porta das traseiras“.
O autor refere que, “na cabeça dos micaelenses, quando pensam nos familiares que se mudaram para o Canadá e tiveram sucesso, esse sucesso é falso – eles regressam à Lomba da Maia com as algibeiras cheias de dinheiro, mas as pessoas não gostavam disso. A realidade é que o dinheiro não simbolizava sucesso.”
Anthony de Sá fala de uma comunidade silenciosa, estática até, e documenta sobre aqueles que não conseguiram agarrar o sucesso.
São “estórias” de famílias reais que não são mais do que a “estória” da sua própria família.