As trabalhadoras da Cofaco de São Miguel denunciaram, em comunicado, a “pressão e assédio moral” que dizem sentir “há anos” e queixam-se da inação do SITACEHT, uma acusação que o sindicato nega.
Em comunicado, as trabalhadoras da conserveira Cofaco, dona da Bom Petisco, dizem que estão “proibidas de falarem e de se cumprimentarem no local de trabalho e no refeitório” e que são “constantemente ameaçadas com a instauração de processos laborais e despedimentos”.
As profissionais referem-se a um “ambiente tóxico, que veio aumentar significativamente o número de baixas e depressões nas trabalhadoras da ‘linha da frente'” e dizem “viver e trabalhar num cenário de enorme pressão e assédio por parte das chefias”.
Os relatos mencionam ainda que estas mulheres são “impedidas de ir à casa de banho durante horas” e “quando são autorizadas a ir o tempo é controlado pelas chefias, que ficam no lado de fora da casa de banho”.
“Os processos disciplinares infundados, injustos e persecutórios são constantes e sucedem-se mensalmente, sendo avaliados fora do seu contexto real”, prossegue o comunicado.
Mas o documento começa por lamentar a inação do Sindicato dos Trabalhadores de Indústrias Transformadoras, Alimentação, Bebidas e Similares, Comércio, Escritórios e Serviços de Hotelaria e Turismo (SITACEHT).
“As trabalhadoras da Cofaco dizem-se alvo de pressão e assédio moral há anos e, apesar das sucessivas e inúmeras queixas aos responsáveis do sindicato SITACEHT, Vítor Silva e Isaura Amaral, a situação tem vindo a piorar assombrosamente sem que o sindicato reaja e as defenda”, lê-se.
O coordenador Vítor Silva é acusado de estar “mais preocupado em aparecer na comunicação social e defender as trabalhadoras da Cofaco do Pico, que fechou há anos [em maio de 2018], nada fazendo pelos mais de 300 trabalhadores da Cofaco de São Miguel”.
Já Isaura Miguel, “responsável pelo SITACEHT em São Miguel e Coordenadora da União de Sindicatos de São Miguel e Santa Maria, limita-se a acalmar as trabalhadoras que lhe ligam todos os dias ao final do dia”.
No documento remetido na segunda-feira à noite, as trabalhadoras lamentam que, “sob o pretexto da pandemia”, o sindicato tenha deixado de realizar plenário naquela fábrica.
Em declarações hoje à Lusa, Vítor Silva afirmou que “o sindicato continua a desenvolver o seu trabalho, aliás, está a negociar um processo de contrato coletivo de trabalho com a Cofaco, e tem atuado, quer junto da empresa, sobre algumas queixas que têm sido apresentadas, quer junto da Inspeção Regional do Trabalho (IRT)”.
Isaura Amaral confirma que tem tomado diligências junto da administração da empresa, com quem mantém diálogo, e remetido os assuntos que não são resolvidos por essa via para a IRT.
“Estou admiradíssima com este comunicado. Não corresponde à verdade. Temos estado muito perto com as trabalhadoras”, afirmou a sindicalista.
A responsável explicou que os plenários deixaram de acontecer na fábrica devido ao plano de contingência da conserveira, já que “são bastantes trabalhadores”, mas garante que tem tido “muito contacto com as trabalhadoras”, através das delegadas sindicais.
“Temos feito, todos os meses, reuniões na própria União de Sindicatos com as delegadas do sindicato”, assegurou.
Sobre as denúncias de assédio moral relatadas, Isaura Amaral disse que “há problemas”, mas garantiu que estão a ser tratados.
Lusa