“A Universidade dos Açores é nova, mas foi criada à imagem das universidades velhas, possuindo uma dispersão de áreas científicas de difícil manutenção”, salientou o reitor da única instituição oficial de ensino superior dos Açores, que abandonará em julho o cargo que ocupa há oito anos.
Na véspera de assinalar o 35.º aniversário da instituição, Avelino Meneses frisou que, “durante mais de 20 anos, a universidade viveu fundamentalmente da formação de professores e para a formação de professores”.
Esta situação obrigou a academia a “trabalhar cientificamente em banda larga”, das línguas e culturas às ciências e tecnologias, o que resultou na formação de um corpo docente muito diversificado, embora qualificado.
Para Avelino Meneses, a universidade açoriana depara-se com um “quadro problemático, numa altura em que as universidades mais novas, sobretudo as mais periféricas, estão empenhadas em individualizar áreas de excelência e em apostar nelas”.
Apesar de ter recuperado de uma situação de “défices anuais” graças ao ‘contrato de confiança’ assinado com o Governo, que permitiu um reforço de transferências, e ter aumentado o número de alunos para cerca de 4600, a Universidade dos Açores não tem condições para novas contratações.
O reitor considerou, no entanto, que a estabilidade financeira perspetivada até 2014, a expetativa de aumento do número de estudantes devido ao alargamento do ensino obrigatório até ao 12.º ano e a continuação do programa de formação de ativos permitem antever um “sucesso garantido” para o futuro.
Para construção desse futuro, frisou a importância dos investimentos em edifícios concretizados nos últimos anos, que permitiram a transferência para novas instalações dos departamentos que funcionam no Faial e na Terceira.
Nas declarações que prestou à Lusa, Avelino Meneses admitiu que deixará o cargo em julho com “angústia”, salientando que “a juventude depara-se com falta de oportunidades e não adianta a sociedade culpar a universidade e a universidade culpar a sociedade”.
Segundo o reitor, as sociedades ocidentais estão a dividir-se “perigosamente” em dois grupos, o dos mais idosos e o dos mais jovens, sendo que “o grupo dos mais idosos é o que ainda consegue valer direitos adquiridos”.
“O grupo dos mais jovens é o que não tem direitos para fazer valer, enfrenta o desemprego, a precariedade laboral, a impiedade dos patrões e perante o qual se manifesta uma certa indiferença”, afirmou.